CRÓNICA DA CULTURA
Aerograma
Luís Pedro,
Bem creio que os anos expõem uma sensibilidade do como foi a viagem com e sem restrições.
Chega-se, enfim, a um rodar que nos leva ao prometimento e nele o que afinal importa para nós aqui chegados.
Nota que te não quero preocupar, se estou a ir além ou aquém, do significado que pretendes que eu assuma com o teu gesto de me doar doadas as tuas realidades. Apenas e muito apenas, podes crer, tenho para mim que sempre caminhaste dentro de ti, sem exceção e sem consultas aos refúgios que te protegeriam.
Saibas igualmente que o meu instinto de preservação nunca foi uma arma adequada contra o mundo; talvez segredos, sim, o tenham sido, antes de descodificar a razão das vidas se fazerem paralelas.
Quanto à vigília das noites por causa da velhice, querido Luís Pedro, te digo que não valem os medos que se instalam.
Os dias são agora mais independentes e menos comum a existência. Nada tem que ver com explicações e não existe qualquer valor moral nos andarilhos.
Digo-te ainda, como carpinteira das memórias do que fui, e do que li e do que sou, e ainda como contrabandista das coisas que vão morrendo porque sim, que, se nestas entrelinhas encontrares razão, aceito pois o teu depositar nas minhas mãos do que nunca roubou o espaço da generosidade com que sempre nos demos, mesmo tendo nós sido vitimas de algumas qualidades.
Consente Luís Pedro, que um dia, deixe eu nas tuas mãos, a alegria, esse não sofrer extraordinário!
Tua Amiga
Isa
Teresa Bracinha Vieira