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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

O pio do silêncio


E estar velho é sentir que se vive uma intensidade do saber e do não-saber para o qual se deseja tempo e ar puro na Natureza e nas ideias e em todos os convívios dos afetos em consciência comum da missão do amor

e estar velho é desejar o vento das tardes, o das casas, o do mar, o dos pássaros e que o cavalo de madeira seja agora de carne e de conclusão em vida do sonho que transportou

e estar velho é sentir que esta pandemia nos faz ficar no defeso, como sítio de folhas sem retorno onde se demora a claridade e apressa o desconhecimento aos nossos espelhos

e se estar velho é não aceitar este tempo assalariado de uma existência rígida, espaço intercalar e jamais, jamais paisagem, quando nunca nos bastou o ver e o rever

então sistematizemos os dados destes excessos de visões mínimas que nos fixam irónicas e eis 

como até vivemos numa desordem de muitas inexistências e só não somos antipoéticos porque enviamos barcos uns aos outros numa antevisão órfica

nós

o bloco dos dissidentes robustos contra as formigas que afinal nos devolvem Camões a um outro destino

quando o silêncio é o imenso pio qual nova proposta da vida

turmalina

que só pertence a uma ave que o esclarece e nos visita.

 

 Teresa Bracinha Vieira