CRÓNICA DA CULTURA
Anoto
como se em silêncio,
por agora
Aprendo a reconhecer anotando o que tento que seja um mapa de interpretação.
Assim também fala a minha voz neste silêncio com diferentes intensidades. Assim também começa, o era uma vez uma árvore da qual nasciam pássaros e ninguém se surpreendia à hora do parto.
Anoto porque é um dos meus modos de falar do que leio e confesso que tudo me fica disperso e ordenado em simultâneo se o faço.
Do modo de assim proceder, surge-me o antes das palavras, e quero crer que haverei também de chegar aos leitores futuros.
Quando anoto, também espreito o lugar anterior ao tempo escrito, e no branco, o desafio do que lhe sobrevém.
Anoto como se em silêncio, por agora já tivesse marcado a paisagem em todos os seus contrários, e logo respondo à minha própria voz, do como foi a experiencia da leitura, se encontrei ou se me despedi, se o que significa está dentro das múltiplas maneiras de quem sabe, o não sei nada, em redor do tudo e da elipse.
Anoto, assim, numa gritaria silenciosa e por agora, a contar pelos dedos, só peço a vida que me falta.
De passagem, em todos os dias quotidianos, a esperança e a promessa regeneram-se ciclicamente.
Cada ir, está sempre entre o poente e o futuro.
Anoto e junto as bordas.
Sudário.
Teresa Bracinha Vieira