CRÓNICA DA CULTURA
Por ocasião do outono
Por ocasião do outono basta uma só árvore se situar entre a luz e a chuva que começa a descer.
Logo, quem escreve a leitura, atenta os ouvidos às folhas, e com elas a fala do que foi nas praias, na pele do mar, nos espaços dos abraços lá onde tudo esteve.
Por ocasião do outono, as horas suaves são sentidas pela suavidade de um tempo propiciador das palavras com boca. Daquelas que nos emprestam vitrinas nas quais se resolve o hiato dos romances.
Por ocasião do outono, celebramos toda a água caçada por rede de arrasto, em horas que o mar permitiu seus tarefeiros.
Nas igrejas, o presépio, por ocasião do outono, é já o lugar-tempo ao qual se oficia por todas as casas que se não sintam solitárias.
E porque é ocasião do outono, os santos devem segurar os poemas para os deixar voar como todas as folhas, na qualidade de navegadores.
E como o sal também está no trigo, por ocasião do outono, tudo se pode confundir no casco das vidas barco adentro, e que essa realidade cria uma evidência nostálgica, bem o sabe o podador das estações.
Teresa Bracinha Vieira