CRÓNICA DA CULTURA
PESSOAS LIVRES
De um modo ou de outro ficamos a coçar a cabeça quando encontramos as mesmas pessoas das manifestações pela liberdade, agora em sôfregas brigadas de consumismo, como se estivessem a optar livremente pela última razão que lhes é dada como alternativa.
Também nos convencemos, solenemente, e sobretudo durante o nosso período de trabalho, de que o consumo não é aquilo que importa na vida, e, quantos, numa “frugalidade superior” até fazem voz, registando o justo e livre sentido de aquisição de uma casa de estatuto, ou a “simplicidade” do saber, na classe social a que pertencem, não merecesse o solto sacrifício da transação.
Não há dúvida que os poderes que controlam as pessoas “livres” encontram nestas, a janela de um poder ansioso de possibilidades que prova até que ponto se não questionaram os seres humanos, acerca do modo como foram ficando presos.
Afinal a reivindicação de poder permanente de uns seres sobre outros, faz-nos pensar nos poderes das castas, nos poderes dos homens sobre as mulheres, nos poderes monetários, nos poderes eclesiásticos, entre outros, e faz-nos questionar sobre o que terá levado as pessoas a aceitarem os poderes que lhes foram reduzindo a escala de vida.
Hoje assiste-se cada vez mais a vidas encapsuladas em territórios de fronteiras minadas de indefinição.
Então, quando se iniciou o espírito aborígene? Aquele que sai de nós, reconhece a arvore e nos envolve como irmãos e irmãs?
Aquele que viaja e encontra.
Aquele que entende a língua sem ligação com a sua porque a dor e o amor são clãs alimentados pelo mesmo ar.
Aquele que avança face ao poder estabelecido e não o tempera, camuflando-o de coisa nova.
Aquele que afinal quer acudir à viagem de todos os que se desejam clonos numa vida de pessoas mais felizes.
Pessoas mais livres, sim, porque podem com verdade antecipar que aquele cálice-mão estará sempre presente nas horas mais difíceis.
Teresa Bracinha Vieira