CRÓNICA DA CULTURA
A Geografia ou as leituras do mundo
Reza a lenda que a Grécia foi formada por Deus quando depois de distribuir pelo mundo as terras, olhou a sua peneira, e deu consigo com inúmeras rochas e pedras a mais, e aproveitou e construiu a Grécia.
Realmente, na Grécia, até as montanhas parecem sair da água, e da República Helénica, quatro quintos são também desfiladeiros e picos grandiosos.
Na Grécia, o coração da geopolítica é extraído de Tucídides e da sua História da Guerra do Peloponeso, obra que ainda serve de base a discussões de aconteceres contemporâneos.
Para Tucídides, o poder hegemónico e o desejo de conquista constituíram o principal fator e base da guerra do Peloponeso. Recorde-se a chamada «armadilha de Tucídides».
Assim, ainda hoje se refere que na origem da guerra esteve sempre o poder ateniense e o medo que tal realidade despertava em Esparta. Hoje também podemos pensar na ascensão da China e nas emoções que os domínios provocam em muitas partes do mundo.
Mais uma vez a Geografia nos ensina a importância da motivação dos comportamentos para a organização dos países e suas modificações culturais e fronteiriças, entre outras.
Como se sabe a geopolítica foi um termo criado no começo do séc. XX pelo sueco Rudolf Kjellén, e tem como objetivo analisar até que ponto a situação geográfica é capaz de interferir nas ações políticas, perscrutando as características do território com o desenvolvimento dos países.
Friedrich Ratzel (1844-1904) considerado como um dos principais teóricos clássicos da Geografia, e influenciado pela obra de Charles Darwin, vem a desenvolver a conhecida Teoria do Espaço Vital.
A Teoria do Espaço Vital, determina que aquelas populações que dispusessem de melhor espaço vital, estariam mais aptas a se desenvolver e a conquistar outros territórios.
Era o modelo político-ideológico que Hitler apresentava para a Alemanha.
Hoje, uma das leituras que podemos fazer, é a de que, se na antiguidade o mar Jónico e o mar Mediterrâneo, foram mares que ligaram comércios, novas ideias, riquezas e também conflitos, hoje podem significar que a Grécia tem de estar atenta ao Médio Oriente, zona de confluência do continente asiático com a Europa e a África, e no qual a economia gira em torno da exploração de petróleo e de gás natural.
Todavia, a orografia (que estuda as nuances do relevo de uma região) e tal como já numerosos invasores antigos constataram - como nas Guerras Médicas lideradas pelos derrotados persas – diz-nos que, na Grécia, esta característica muito a protege de uma invasão, para além de contar também com o mar como defesa natural.
Afinal, não é em vão que o termo «acrópole» significa «cidade alta» também por entre a Geografia e outras leituras do mundo.
Teresa Bracinha Vieira