CRÓNICA DA CULTURA
O padre olhou-o sério e em silêncio avaliando a força do que ouvia.
Parecia-lhe que se anunciava uma outra espécie de trespasse da vida daquela gente para quem preparava a homilia de todos os dias,
e parecia-lhe que a de hoje, em verdade e em verdade deveria ser assim:
Meus irmãos:
reclamam os tempos que correm que haveis de ter presente que a dona de todas estas terras e arredores que conheceis,
ou de que ouvistes falar,
pretende aumentar-vos os tributos, as rendas, enfim, o modo de pagamento que com ela acordastes.
Meus irmãos:
vós trabalhais descomedidos e no muito no duro; vós tendes doentes e filhos em casa; enfim, vós sois bem pobres e nada devem, bem se sabe,
como se sabe que pelo caminho que isto leva, a fome rasteira é gume que vos ceifará.
Meus irmãos:
encarregaram-me de vos dizer que haveis mesmo de pagar mais ou perdeis o arrendo.
Meus irmãos:
Jesus pediu-vos que acreditassem na Boa Nova, no Pão da Vida.
Assim, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro,
dizei que da cava e da lavra e do desagasalho, pagareis a vossa parte,
mas tão só a vossa parte.
Meus irmãos:
Agosto não é o que o destino quis.
Teresa Bracinha Vieira