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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

  


O padre olhou-o sério e em silêncio avaliando a força do que ouvia.

Parecia-lhe que se anunciava uma outra espécie de trespasse da vida daquela gente para quem preparava a homilia de todos os dias,

e parecia-lhe que a de hoje, em verdade e em verdade deveria ser assim:

Meus irmãos:

reclamam os tempos que correm que haveis de ter presente que a dona de todas estas terras e arredores que conheceis,

ou de que ouvistes falar,

pretende aumentar-vos os tributos, as rendas, enfim, o modo de pagamento que com ela acordastes.

Meus irmãos:

vós trabalhais descomedidos e no muito no duro; vós tendes doentes e filhos em casa; enfim, vós sois bem pobres e nada devem, bem se sabe,

como se sabe que pelo caminho que isto leva, a fome rasteira é gume que vos ceifará.

Meus irmãos:

encarregaram-me de vos dizer que haveis mesmo de pagar mais ou perdeis o arrendo.

Meus irmãos:

Jesus pediu-vos que acreditassem na Boa Nova, no Pão da Vida.

Assim, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro,

dizei que da cava e da lavra e do desagasalho, pagareis a vossa parte,

mas tão só a vossa parte.

Meus irmãos:

Agosto não é o que o destino quis.


Teresa Bracinha Vieira