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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA


Há um medo severo de não se sentir que se pertence e que se é amado e respeitado pelo que se é ou pelo que se foi.

Também há um medo de que a nossa história possa ser apenas uma complicação desinteressada e desatendida por não sermos a pessoa que queríamos que os outros em nós reconhecessem.

Muitos tipos de medos de domínio ou predação desencadeiam em nós vontades inequívocas de que se instale uma distância dos outros que não nos perigue.

Na verdade, continuamos deficitários nas várias formas de comunicarmos a própria legibilidade dos estados emocionais, e temos a noção de que a transparência gera vulnerabilidades irrecuperáveis.

O medo que envolve o olhar do outro sobre nós, o olhar cheio de truques que nos sonda e irá aferir, alerta-nos para o não tonificar as relações todas do mesmo modo.

De resto, até dentro de um elevador os olhares evitam-se já que não queremos acrescentar nada mais à intimidade física imposta.

O mesmo acontece noutras situações relacionais que variam de pessoa para pessoa e de acordo com a sensibilidade de cada um.

Também o medo que muitos sentem por se sentirem em desconforto face ao abrandamento de várias relações, leva-os a exigir explicações numa ansiedade que lhes facilite o entendimento e os acomode apenas no seu raciocinar-sentir.

Ora o que se vê e se ouve e o que não se vê e se sente fazem parte de uma capacidade de desempenho interpretativo que não pode violar a esfera da legibilidade que se oferece.

É natural que surja mesmo uma menor motivação de conversarmos com outros, interpretando ela, um medo-alerta de que a diversidade pode não se mostrar necessariamente como algo favorável naquele tempo da vida.

Uma sociedade menos excludente do compreender a tempo as perceções, identificaria as emoções que levam ao medo no diagnóstico do que o precede.

Afinal a cada um o seu desconforto, ou mesmo o medo de que a máscara não assuma que o fundo comum é de todos, e que a diferença é complexa e pasmosa de singularidades, e que juntas, poem em perigo a aventura humana antes mesmo do privilégio do ponto de viragem.


Teresa Bracinha Vieira