CRÓNICA DA CULTURA
De facto, um dia fomos todos os que fazíamos de muitas ruas o espaço sem fronteiras de um recreio; os que fazíamos dos montes e das nuvens as testemunhas de uma cambalhota na natureza dos risos; os que criávamos em todo o lado as paisagens das infinitudes.
Nós somos-fomos a nossa infância e nela as cartas enroladas dentro de todas as garrafas lançadas para as correntes favoráveis.
Nela atrelámos tudo o que se lhe seguiu e nem sempre se esclareceu o que era aventura.
Mas a partir de um tempo, um tudo-tempo não espontâneo, até os pais nos considerariam desconhecidos se não compreendêssemos o «tu é que tens a culpa se não percebeste a tempo.»
E o “a tempo” é um sem número de possibilidades que englobam a razão do conhecer, a força dos dentes de leite e os de imposição definitiva, inclusos bem inclusos, na bagagem dos refugiados no desembarque dos dias ‘D’ das nossas vidas.
E fomos participando no desenvolver de expectativas que envolveram relações de confiança e respeito, e fomos desafiando o que somos e também prendemos e não soltámos.
Caça.
E afinal, de facto, um dia, fomos todos, de um modo ou de outro, destinatários de missivas brancas para que em curtas ou longas-metragens aprendêssemos a fazer ficção.
E começámos o jogo em casa. Criámos específicos bastidores.
Alguns auferiram condecorações pelas performances enquanto escutavam stereos da Elis Regina com Carlos Jobim sob as mãos de Maria João Pires, e muito pretenderam que equivalessem aos tempos das gemadas batidas pelas avós, e aos outros tempos, os de hoje, tão longe, meu Deus, tão longe das antigas moradas, daquelas que se assemelharam aos olhos das pombas.
E eis-nos chegados a uma fase tão, tão embrionária.
De novo.
De nada novo.
De facto, a cobra morde a própria cauda, quase intuitivamente, e não está em causa um retorno, mas sim a repetição da história humana.
Somos ovo.
Quem nos incubou na cadeia de elos semelhantes? e novamente antes de um outro fim,
singular nascente que sob a sua frescura desejei e estive.
Teresa Bracinha Vieira