CRÓNICA DA CULTURA
E pego-vos ao colo
numa pretensão de mãe
que
só vos fala
através dos sonhos
Que
a vossa superlativa dor reclama à piedade extinta
que
a indiferença do mundo em vós
não finda
que
a vossa resistência é húmida de sangue e lágrimas e medo e aflição
e tão imensa a vossa nudez
acossada
por homens sem olhos
de horrendas pálpebras
grandemente abertas
para que nada viva
para que nada se perceba ou se ame
que
vossos rostos
desaparição
Ó inocentes!
que
rasgada e arrastada a vossa pele em chaga
ainda rejeitam
que
vossos filhos pressintam
que
as asas que lhes prometeram
se suicidaram no amanhecer
do vosso abandono
absoluto
Ó inocentes
que
de nós retiraram parte
para fazer outros iguais
que
somos nós
os indignos
E pego-vos ao colo
numa pretensão de mãe
que
só vos fala
através dos sonhos
Teresa Bracinha Vieira