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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICA DA CULTURA

  
      Árpád Szenes


E escrever sobre o eu.

O eu que poucos conhecem, o eu de fora, o de dentro e os eus que nem a lâmina finíssima separa.

O eu nascido, o eu universo, o eu memória, o eu consciência, o eu virtual, expressão do self.

Sim.

Escrever. Refletir.

E escrever com as palavras

essenciais

e com todas as outras também essenciais.

Nelas e nas por escrever, acontecimentos, pensamentos, primeiros e últimos

de eus também de um deus; de deus nenhum; de eus de vários deuses.

E também escrever e refletir sobre o eu-coxo

e sobre o eu que desconhece

o coxeio.

E refletir e escrever sobre o eu das trocas do nada pelo vazio,

do não sei quem pelo não sei quê como ponto de partida.

Refletir.

Escrever.

Vitaliciamente.

E refletir e escrever sobre o eu das pandemias dos eus prenhos do medo.

Refletir e escrever

sobre todos os eus contidos na morte que os esquece.

E escrever sobre o eu.

E refletir sobre o eu debaixo da imensidão que carece de significado.

O eu

meu, nosso

ao qual chegamos

na estreita margem da liberdade

ainda triunfo, ainda aresta viva,

idealidade


Teresa Bracinha Vieira