Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

A viagem pode tornar-se sem sentido e a existência um equívoco.


A preferência pelo imediato e pelo descartável identifica as sociedades em que a leitura e o pensamento crítico não existem.

Uma sociedade que não lê não consegue interpretar nem se sabe desafiar e enfim de si mesma não evolui.

A ideia de que tudo deve ser fácil, descomplicado e imediato, contribui para a exclusão dos estímulos num contexto de expressões culturais mais exigentes, gerando cidadãos não preparados para a complexidade.

Vive-se no espetáculo e no entretenimento; vive-se num mundo em que o afeto só é verdade se exposto; vive-se numa realidade que deve impactar o que não causa descoberta ou aprendizagem, num dia-a-dia em que se nivelam padrões de mediocridade e se negligenciam as experiências formativas de qualidade.

E tudo isto parece importar pouco.

E tudo isto forma gentes submissas; gentes que caminham de trela curta num show de obediências ao sistema que as sufoca.

Deste mundo, ausente a liberdade, restando apenas o jogo infantil que se propõe ganhar todos os jogos vãos.

E eis uma multidão mimética, intoxicada e iludida em totalitarismos que a prendem a uma teia que não detestam.

E eis que a viagem pode tornar-se sem sentido e a existência um equívoco.

E eis que se sonha ser senhor comportando-se e contendo-se como escravo.

Vence a preferência pelo imediato e pelo descartável na luta de todos contra todos?

Vence a mercantilização dos valores reunidos num único organismo?

Uma coisa é aceitar o risco de morte, outra é aceitar a morte.

E tudo isto continuará a importar pouco?


Teresa Bracinha Vieira