CRÓNICA DA CULTURA
A viagem pode tornar-se sem sentido e a existência um equívoco.
A preferência pelo imediato e pelo descartável identifica as sociedades em que a leitura e o pensamento crítico não existem.
Uma sociedade que não lê não consegue interpretar nem se sabe desafiar e enfim de si mesma não evolui.
A ideia de que tudo deve ser fácil, descomplicado e imediato, contribui para a exclusão dos estímulos num contexto de expressões culturais mais exigentes, gerando cidadãos não preparados para a complexidade.
Vive-se no espetáculo e no entretenimento; vive-se num mundo em que o afeto só é verdade se exposto; vive-se numa realidade que deve impactar o que não causa descoberta ou aprendizagem, num dia-a-dia em que se nivelam padrões de mediocridade e se negligenciam as experiências formativas de qualidade.
E tudo isto parece importar pouco.
E tudo isto forma gentes submissas; gentes que caminham de trela curta num show de obediências ao sistema que as sufoca.
Deste mundo, ausente a liberdade, restando apenas o jogo infantil que se propõe ganhar todos os jogos vãos.
E eis uma multidão mimética, intoxicada e iludida em totalitarismos que a prendem a uma teia que não detestam.
E eis que a viagem pode tornar-se sem sentido e a existência um equívoco.
E eis que se sonha ser senhor comportando-se e contendo-se como escravo.
Vence a preferência pelo imediato e pelo descartável na luta de todos contra todos?
Vence a mercantilização dos valores reunidos num único organismo?
Uma coisa é aceitar o risco de morte, outra é aceitar a morte.
E tudo isto continuará a importar pouco?
Teresa Bracinha Vieira