CRÓNICA DA CULTURA
A alma-planta que rompe a pedra
Nem por um instante nos podemos distrair da luta contra a desumanização e que tanto expõe a fealdade quotidiana do mundo.
Vive-se numa guerra entre versões incombináveis da realidade e temos de aprender a travá-la.
As narrativas prenhas de destruidoras mentiras contam histórias que se têm revelado atraentes para os seguidores dos gostos como nova gulodice.
É chegada a hora de expormos as realidades dentro das quais, em consciência, as pessoas querem viver.
É chegada a hora de deixarmos absolutamente claro o quanto a brutalidade cria falsas explicações para justificar a agressão e o controlo; o quanto a opressão conduz ao desastre total que visa impedir-nos o pensar e o sentir.
E sabe-se que o amor dos opressores está cheio de ódio, e que tudo o resto do seu íntimo e dos seus objetivos, já a história tragicamente conheceu.
Mas em nós, em nós, a substantiva bússola da alma-planta que rompe a pedra e é esperançar, e é caminhar, agir, fazer nascer, clamar pela nossa atenção ao presente para que não viremos costas ao futuro; para que saibamos que não estamos impotentes se não ficarmos ociosamente quietos, enquanto as batalhas tiranizadoras grassam em várias frentes.
Em nós, dizíamos, esta substantiva bússola da alma-planta que rompe a pedra e expõe a conciliação dos humanos com a sua humanidade.
Aleluia!
E se é certo que o poema não impede a bomba ele recorda-nos que é mais forte do que a morte.
Todos temos os nossos meios para nos mantermos envolvidos e prestarmos atenção, de forma útil, aos tempos que se vivem.
Lembremo-nos que a proibição aos seres de não irem mais além sempre tem sido vencida.
Lembremo-nos que não seríamos quem somos sem os nossos ontens.
Lembremo-nos das acutilantes e esperançosas palavras de Aranguren:
Nadie conoce al hombre,
nadie puede sondarle en su corazón,
pero debemos creer en él
y esperar de él.
Teresa Bracinha Vieira