CRÓNICA DA CULTURA
E vai sendo suposto que este é um modo de viver neste estado incompossível de não-ser.
Parecem seres ausentes do mundo estes seres que tomam por inimigos quem os abana para que se proporcione vida.
E como dialogar com eles sem surpresa nem susto?
Eles são também os novos tempos de sonolência e existem ainda mais gentes com outras sonolências, mais escravas da escravatura, do não-questionamento de si próprias e da possibilidade de se olharem conforme à sua condição envolta numa gama de simplificações absurdas.
E de um lado para outro os tempos do ovo sem gema.
E como extrair alguma coisa deste nada a que se chegou?
Estarão muitos dos homens ineptos para a existência, destituídos de meios para pensar, falar, questionar, contestar, como quem aceita os planos inclinados e porque sim ou porque não, e por que, e os danos colaterais a celebrarem a apoteose da morte em grunhidos quase números.
E vai sendo suposto que este é um modo de viver neste estado incompossível de não-ser.
E são estas as gentes líquidas, as gentes de uma humanidade destituída até da angústia.
E o drama é a conciliação no aceitar este viver todas as praias assim e tudo o mais no mesmo assim.
E o drama é que dentro destes seres existe a faca que cortou todas as palavras e as coisas que denominam.
Contudo, algo superior e distinto existe e continuará a acudir à loucura do mundo.
Assim cremos.
Teresa Bracinha Vieira