CRÓNICA DA CULTURA
A incapacidade de pensar conduz à questão do errado que é de julgamento moral e não legal
A incapacidade de pensar também conduz à questão do errado que é de julgamento moral e não legal.
Arendt estabelecia uma diferença entre as questões legais e morais, mas admitindo sempre que ambas pressupõem o poder do julgamento.
Na verdade, pode-se estar a obedecer à lei e não se ser acusado de nada, o que não impede que o que se tenha feito não esteja absolutamente errado.
E como consideramos absolutamente responsável alguém que violou um código moral e não um código legal?
Na verdade, pode-se rebentar qualquer categoria do julgamento moral, e a diferença entre quem nela participa sem resistir, e quem decide resistir, assenta numa única resposta: capacidade de pensar.
De registar que os crimes que desafiam a possibilidade de julgamento humano são exatamente os que estoiram com qualquer organização das instituições legais que os tenham em mira de responsabilidade.
O julgamento-espetáculo, a torpeza política, as falsas verdades, as hediondas desumanidades, também assentes no simplificador sim ou não, no branco ou preto, expõem a natureza do mal profundo sem que quem o pratique sinta culpa alguma, já que quem o exerce não se pergunta até onde é capaz de viver consigo depois de provocar e mesmo cometer atos terríficos.
A verdade da enormidade do mal instigado por grupos, sem pensamento autoanalítico, manietam gente e mercadoria, movendo milhões ao escrutínio, num sem contorno na radical desigualdade da lei perante os cidadãos.
O mal extremo continua a renascer para destruir o que resta de humano nos homens, experiência recapturada e reatualizada como se esta herança nos tivesse sido deixada em testamento a cumprir.
Quem está preparado para responder pelo que considera justo, nunca será aquele que conduzido por “notáveis” sem pensamento, é, na verdade, incapaz de entender a sua falência no aceitar-se neste contexto; no não percecionar que a importância da luta pelo que é positivo reside no não esquecimento do que é negativo; que a incapacidade de pensar conduz igualmente à questão do errado que é de julgamento moral e não legal.
Teresa Bracinha Vieira