CRÓNICA DA CULTURA
As analogias com o passado não nos permitem resolver o presente (…) aprendamos como pensar
Arendt
Jean Nouvel
Muito reina uma espécie de esclerose que continua a negar ao pensamento a possibilidade de concretizar diferentes futuros no presente.
Muitos são os que acomodam as evidências do «tudo é assim na história do homem e a alternativa é utópica e as teorias não são buscas» e por aí se ficam.
Entretanto tempos penosos impõem a vontade fundamental de outros começos assentes em ideias novas e suficientemente sólidas que estimulem o arranque.
E ninguém pode dizer que os dias não estiveram carregados de alertas a que os homens não renunciassem à aptidão de se melhorarem, melhorando as próprias instituições que criaram.
Ninguém pode dizer que os dilemas inter-relacionados não criaram uma sensação de perda do futuro e que as gentes não estão a sentir uma incapacidade para atenuar as suas ansiedades e pessimismos.
Ninguém pode dizer que o pior não pode acontecer e que o interior e o exterior dos medos não são um sistema de domínio.
Ninguém pode dizer que não estamos numa emergência de um acontecer medonho, e para o qual as gentes se estão a deixar arrastar pelas correntes, não se colocando a questão de como evitar ser levado por elas, ou como assumir e reagir pessoal e coletivamente pois é a liberdade que está a ser restringida.
Em rigor, o remoer e remoer nas feridas não conduz à defesa do resistir, não conduz a uma esperança, uma esperança com algo de irracional, é certo , mas que salve algo e agora!
Na verdade, os governos não incorporaram as opiniões dos governados e até os mais frágeis dos frágeis, num excesso numeroso, não causaram sequer tensão em demasia junto de quem podia e devia redesenhar futuros em prol da justiça.
As razões políticas continuam a assentar numa relação de domínio e de obediência sem reconhecer as diferenças e, tudo, tudo muda tão devagar, que se receia ser ainda cedo para que a igualdade das diferenças se estabeleça.
Contudo, nas sociedades coexistem liberdade e silêncios dolorosos, e essa realidade é absurda no caminho de uma sã democracia. Há que mudar depressa esta situação; há que provar que acordámos com afoiteza.
Desespero e pessimismo não constituem o único futuro que podemos esperar.
Aquela parte irreprimível do espírito humano não rejeita a força motriz da utopia responsável, essa parte do espírito humano, não admite ficar-se na constatação de que as coisas são como são e nunca podem ser desfeitas.
A cultura e a experiência humana é que formam o objetivo final.
Teresa Bracinha Vieira