CRÓNICA DA CULTURA
O QUE HÁ A GANHAR AINDA NÃO FOI PESADO CONTRA O QUE SE PODERÁ PERDER
Nas palavras de Naomi Baron, a grande questão reside em saber o quanto a memória, a concentração, as reflexões serão parcialmente perdidas pela leitura no ecrã que nos tem conduzido a um novo normal.
Existem sinais de desincentivo à leitura graças às máquinas que invadem as vidas na era digital e assim os cérebros se vão remodelando. Receia-se mesmo que a inovação digital esteja a avançar muito mais depressa do que a nossa capacidade de entender os efeitos dessas inovações nos nossos cérebros.
O que há a ganhar ainda não foi pesado contra o que se poderá perder.
Há uma base sólida para estes receios, para a falta de substancialidade. Desde logo, a distração por ecrãs, torna o tempo dedicado a qualquer novidade conceptual imoderadamente escasso para o integrarmos no nosso conhecimento.
A leitura induzida é superficial, o que pressupõe um pensamento igualmente superficial, o que nos faz recear que na era digital, possamos perder a leitura profunda bem como o próprio processamento profundo, aquele que é conhecedor da luz que ilumina.
De registar que se assim for, a própria política, bem cheia desta mudança decisiva - e se a mesma continuar a ser fragmentada e descontextualizada-, só conduz a uma exacerbação da polarização o que só contribui para a mentalidade de soma zero e alimenta o sentimento de "nós versus eles".
Na verdade, a informação curta e imediata funciona como custo de oportunidade, confundindo informação com conhecimento.
Esta mentalidade gera hostilidade e impede a cooperação, a própria colaboração entre indivíduos, dificultando o próprio desenvolvimento económico já que um país que impõe tarifas a mercadorias estrangeiras, protege as economias domésticas, mas limita a inovação e o crescimento.
O novo pensamento gerado pelo digital-humano não interioriza, pois não existe contexto, tudo se pode consultar imediatamente no computador, o que pode tornar extremamente difícil um pensamento credível sobre a ordem mundial.
Mas ainda vamos a tempo de impedir que o santuário solitário que nos chega com a leitura, seja despromovido a solidão.
Mas ainda vamos a tempo de não acabarmos como Eloi no livro A Máquina do Tempo (1895), de H.G. Wells.
Teresa Bracinha Vieira