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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

O QUE HÁ A GANHAR AINDA NÃO FOI PESADO CONTRA O QUE SE PODERÁ PERDER 

  


Nas palavras de Naomi Baron, a grande questão reside em saber o quanto a memória, a concentração, as reflexões serão parcialmente perdidas pela leitura no ecrã que nos tem conduzido a um novo normal.

Existem sinais de desincentivo à leitura graças às máquinas que invadem as vidas na era digital e assim os cérebros se vão remodelando. Receia-se mesmo que a inovação digital esteja a avançar muito mais depressa do que a nossa capacidade de entender os efeitos dessas inovações nos nossos cérebros.

O que há a ganhar ainda não foi pesado contra o que se poderá perder.

Há uma base sólida para estes receios, para a falta de substancialidade. Desde logo, a distração por ecrãs, torna o tempo dedicado a qualquer novidade conceptual imoderadamente escasso para o integrarmos no nosso conhecimento.

A leitura induzida é superficial, o que pressupõe um pensamento igualmente superficial, o que nos faz recear que na era digital, possamos perder a leitura profunda bem como o próprio processamento profundo, aquele que é conhecedor da luz que ilumina.

De registar que se assim for, a própria política, bem cheia desta mudança decisiva - e se a mesma continuar a ser fragmentada e descontextualizada-, só conduz a uma exacerbação da polarização o que só contribui para a mentalidade de soma zero e alimenta o sentimento de "nós versus eles".

Na verdade, a informação curta e imediata funciona como custo de oportunidade, confundindo informação com conhecimento.

Esta mentalidade gera hostilidade e impede a cooperação, a própria colaboração entre indivíduos, dificultando o próprio desenvolvimento económico já que um país que impõe tarifas a mercadorias estrangeiras, protege as economias domésticas, mas limita a inovação e o crescimento.

O novo pensamento gerado pelo digital-humano não interioriza, pois não existe contexto, tudo se pode consultar imediatamente no computador, o que pode tornar extremamente difícil um pensamento credível sobre a ordem mundial.

Mas ainda vamos a tempo de impedir que o santuário solitário que nos chega com a leitura, seja despromovido a solidão.

Mas ainda vamos a tempo de não acabarmos como Eloi no livro A Máquina do Tempo (1895), de H.G. Wells.


Teresa Bracinha Vieira