CRÓNICA DA CULTURA
Finitude
Ouvi-te dizer
Falta-me a força. Leio as missas do meu tempo e assim quisera hoje desafinar dos seus cantares e das suas teias antes que me salte a última fagulha sem me clarificar. Ao longo da minha vida sempre senti o tempo como meu predador insaciável. Ainda assim não o temi devidamente e agora sinto-me numa finitude inquieta e sedentária num idílio que ainda procuro. Não nego.
Com ou sem bagagem quero ir e levar-me comigo. Queria deixar claro que não sou um fugitivo, malgrado muitos «continua no próximo episódio do dia». Sei que tudo me sobreviverá e a ampulheta foi contratada para adivinhar a tolerância à última palavra que me dá ou que me recusa.
E caio na finitude que tem um “pré”. Esse “pré” é o que me ouve e ele a mim. Esse “pré” sou eu; que desaprova, ri, propõe, inventaria, quase tudo ama e tolera numa compreensão da condição humana que lhe risca as certezas da lista infinda da razão pela qual estou triste. Como outras tantas vezes depois de.
E juro-te pela enésima vez, no que respeita à minha finitude, estamos de acordo. Sei, sem equívoco que a mobília se desmobila e arrasta a sempre-viva questão: como será aproximar-me com rigor? Afinal sou eu que me não dou descanso nesta finitude e neste “pré” ou não é que há já anos que este transito dura?
Infinitamente, eu sou eu e a minha testemunha que no secreto compartimento me ajuda à voz e te grito
Amo-te.
Amo-te também nesta atração pela queda ingénua a fim de reconhecer a diversidade e assim me solto, embora ainda não sopre o vento e a finitude se coloque como pergunta penosa.
Enfim, um definitivo resumido este. Um ser livre quando um cansaço, uma finitude quase dorme, na renovada folha das horas igual a tudo. Mungido o sonho nesta minha combativa vitalidade, marco passo só para tomar balanço. Afinal.
Teresa Bracinha Vieira