CRÓNICA DA CULTURA
Portugal e a Primavera
Se alguma casa se inicia pelo teto é a das estações do ano, agora, a da primavera. Chega um céu azul de oiro e as árvores e as flores e os cheiros ganham uma urgência própria. É o princípio da realidade com outras verdades, chegam e fazem de todos nós, portugueses e estrangeiros, alunos de primeira vez.
Portugal cobiçado por estas rotas que abre porta ao verão, faz-se país de destino fingidamente surpreendido pelas múltiplas explanadas que despontaram no tempo certo e onde o sol, ele mesmo, é sempre uma alegria que se junta à conversa. Às vezes a primavera não chega a horas. Dá-se por distraída a perscrutar o mistério do tempo. Portugal, então, oferece-lhe um relógio com corda de filósofo e não é que felicidade e liberdade deixam de se sonhar? É no fundo um momento fantasista em que os poetas daqui se impulsionam, não obstante não perderem a claridade de todos os sentires.
Escrevem então que Portugal também gosta de se fazer chegar atrasado, várias vezes, que mais não seja, cinco minutos, apenas para o miradouro do seu espaço geográfico lhe dizer: oh! eu! Não estarei já na eternidade?
Portugal responde-lhe: sinto do lado do coração um atraso e uma pressa, uma espécie de vontade de ser adiantário por perceção que tenho do tempo, e retardatário para que em soma de esforços ofereça o melhor.
Um dia a avó disse-me que Portugal acordava de noite por bem conhecer todo o tempo decorrido desde que nascera e precisar dos pedaços da noite para melhor representar o futuro pelas manhãs.
Portugal trabalha tanto quanto a primavera, perguntei? E também se rega Portugal?, acresci.
Neta minha, se todos o regarem como fazes com o teu vaso, ele ousa tornar-se o que é e a resistência e o jogo das estações, tudo junto com a incerteza, semearão a esperança! Sim, sei que já dormes, por isso posso acrescentar que desse modo a ciência vai juntar-se à metafisica e tudo se passa como se fossemos feitos para outra coisa.
A primavera essa permanecerá um mistério absoluto. Portugal, um arrepio de amendoeira em flor, do lado das coisas melhores
Teresa Bracinha Vieira