CRÓNICA DA CULTURA
O credo é sempre o mesmo: a gente pergunta-se a si próprios onde estão os maus? Todos juntos? Ou é só um que se alarga de quando em vez? E os bons? Os bons?, somos nós. Ora, ora. Fomos sufragados por nós e estamos em maioria, e que se registe esse facto uma e outra vez. Não há dúvida, os bons somos nós. E que nenhuma serena, astuta e modorra ideia coloque a dúvida de que eles são os maus.
Nós temos uma estatística autorizada. Nós, os bons. É uma estatística mimética que nos confere o direito de nunca entendermos os maus, pois somos tão acima, que, nem em esforço desceríamos tão fundo para lhes salvar alguma verdade. E a ser verdade, a deles seria sempre fingida verdade.
Às vezes suamos muito para que eles sejam os maus, é certo, mas vale a pena. Calafetamos dúvidas nesse trabalho e fazemos provisões de mantimentos que nos mantenham a vida. Aos sábados reunimos o bando dos bons e em credo cruxificamos os maus e o mundo fica mais limpo para nós.
Desde as praias do Algarve até ao Minho cotejando litoral e interior, os bons e os maus solicitam fronteiras e são contra os estrangeiros. Existem pontos de encontro. Afinal.
E que ninguém conte com o dia de amanhã! A tolice é um trabalho sobremaneira triste e por demais sabido de todos. E nós, os bons, numa luminosa inteligência não veremos o dia em que acabaremos por cair todos, mas com a certeza de impedir a tempo que os maus nos prestem homenagem.
Disto os noticiários voltaram há pouco a fazer eco.
Teresa Bracinha Vieira
Agosto 2017