CRÓNICA DA CULTURA
A criatividade é sobretudo a ideia nova da curiosidade
A fome da experiência diferente existe. O excesso que quebra o entorpecimento e nos faz sentir a necessidade de espreitar pela janela, é em si, uma abordagem da consciência sem medo das emoções: a raiz da força da ideia nova.
Pelos canais das intuições, as empatias do entender o fundo que se não mostra, separa-se mesmo dos outros sentidos, e, dão o salto sozinhas, num processo interno de diálogo e de recolha interpretativa à precisão das nossas perceções. Este um dos caminhos da intensidade e das razões por que ocorre; este um processo vivo de interatividade que até pode ser doloroso, insuportável mesmo, face à decisão do que fazer com a nova informação. Como reagir à nova cor? À nova palavra? Ao novo som? Como criar a nova substância, face ao que existia, quando em peças isoladas a intuímos?
Não é fácil. Há que abrir passagens na própria barreira das nossas emoções. Há que ter aprendido a necessidade da curiosidade, aprendizagem que sempre se iniciará e acabará no nosso coração, nem sempre generoso ao trabalho de sapa que nos leva às razões.
Criar é também tornarmo-nos fluxo e refluxo do nosso próprio entender, e expô-lo a interagir, e, por aqui, quantas vezes, enrolados nós até aos outros, e a luz do mapa que percorremos e que afinal não foi suficiente. Ainda assim a criatividade vai decidir como proceder para alterar esta situação e afinar desculpa, corrigindo o processo energético desperdiçado num saber que o não chegou a ser, ao menos pela diferença da criatividade e da curiosidade, ambas, quantas vezes, sem libertação suficiente para a todos convidar ao mais longe possível, por onde sempre podemos começar um décimo segundo passo, no validar da criatividade, atributo de uma curiosidade fértil e atenta e responsável.
Também dentro do ato criativo, dentro e bem dentro da curiosidade imparável, existe uma hospitalidade universal em nós, que significa um direito do que é estrangeiro e que chega até nós - sua nova morada - e não invoca acolhimento, antes visita, e nos convida a ir até ao outro lado da terra prometida sem qualquer mapa que nos oriente.
Teresa Bracinha Vieira
Fevereiro 2018