CRÓNICA DA CULTURA
POSTAL 1º
Parece-me que todos os países e cada um que visitas sofregamente, não passam de recantos equidistantes do ponto que procuras e que afinal, quantas vezes, até já conheces por muito conheceres?
Dulce,
Pelo que intuo, fora do teu refúgio, nunca estás sem ele.
Arrepiaste caminho, bem sei, quando seguias por aquela estrada que te levava ao início dos montes inquietos, com sítios e nomes registados na tua agenda, lá por onde passeaste na mota do Luís Pedro, braços teus seguros, enfim, no peito dele.
Arrepiaste caminho, siderada da saudade do que não aconteceu.
Sei que sabias que nas tuas mãos, o estojo, onde tudo guardavas, podia-se abrir um dia, tal como aconteceu, e, de repente, alguns beijos soltaram-se, e agora, agora não sabes como celebrar o luto daqueles em falta.
E lá foste a Lassa. De novo. Por confusão ou desejo, esse o destino. Mais um, equidistante.
Minha querida amiga,
Nem sabes que também eu perdi a morada do profeta, aquele que tudo jogava num ladrilho de céu, torres, cavalos, peões, reis, enquanto os oceanos se sossegavam e neles eu também equidistante nas ondas da minha onda.
Todos temos segredos, querida Dulce, e alguns extraordinários, por tão belos e outros, por tão funestos. Todavia, é meu desejo que este meu postal, te faça esquecer esse teu fundamental, possa ele distorcer esse teu real, encobrir mesmo teu passado só teu, e do que fica, tenhas tu a possibilidade de partir, como quem se some num denso, desconhecido e convidativo nevoeiro, e saibas tu que a primeira recordação nítida da tua vida, será sempre de ti.
Assim hoje.
Isa.
Teresa Bracinha Vieira