CRÓNICA DA CULTURA
POSTAL 3º
Tens toda a razão, Dulce, os homens foram e são o centro e o descentro da terra. Há mesmo quem acrescente: e paradigmas de si mesmos. Não sabem quem são nem quem foram e tudo numa rotação de gelatinas ajuizadas pelos mesmos.
Não se pode estar no mundo, e no mundo de Lassa, e olharmo-nos a espelhos. Tomaria até aversão a espelhos. Seria terrível ver o desconhecimento de quem se é, e tão mais perto do céu, o vacilar.
Quem te diz e me diz do sem remédio de onde viemos e ao qual voltaremos? Quem te diz e me diz que só o além da memória é eixo no sentido da rotação que desejamos? Como sabemos ajuizar do tecido dos nossos sentires?
Ó Dulce!, e nós, a dizermo-nos estas coisas por postal, por postal oriundo do peito que já as ouviu, quando as nossas dúvidas eram adivinhadas de olhos nos olhos!, e grande era o susto e o espasmo.
Quero crer, quero crer que um dia os homens possam, enfim, ter o dom de entender, na totalidade, a palavra dita, e, se um dia a escreverem, quem sabe?, se não se alteram as proporções das fraturas e a mera lasca traga humanidade ao humano.
No jade da terra as palavras são confiáveis, alguém me disse, e o amo-te é seguro. Vê só!
Nas encostas íngremes por onde andas, as sombras chegam primeiro aos cumes: são sombras de onde nascem os dias, alguns, tão discretos que passam despercebidos, e outros, em que trocamos estes postais-cometas.
Abraço-te com saudade
Isa
Teresa Bracinha Vieira