CRÓNICAS PLURICULTURAIS
102. A ILUSÃO DE PROGRESSO NA GUERRA
A guerra é uma forma de dominação do homem pelo homem.
Sempre assim foi, por mais que se aperfeiçoe a “arte” da guerra.
Muitos inventos que contribuíram e contribuem para o nosso bem-estar e saúde, foram colocados ao serviço da guerra, como armas ofensivas e defensivas, usando técnicas de engenharia, de geometria, matemática, biologia, física, química, entre outras.
A relação humana com as coisas tem-se regido pela lógica do progresso, numa evolução linear e permanente, melhorando gradual e constantemente, sem regressão técnica a médio ou a longo prazo. Ninguém troca meios de transporte tecnologicamente mais funcionais e evoluídos por transportes mais antigos. Não há regressão científica, técnica, informática ou eletrónica. É uma tendência universal comprovada pela nossa História e Geografia ao longo dos tempos, que também é extensiva ao progresso técnico e científico da “arte” de fazer a guerra.
Porém, se bem que a guerra do século XX e XXI seja mais mortífera que a de séculos anteriores, há nela uma temporalidade sempre repetitiva da sua natureza desumana, hedionda e monstruosa, em que a selvajaria e a banalidade do mal se diferenciam por confronto entre o que é “selvagem” e “civilizado”. Por contraste entre o tempo cumulativo do desenvolvimento técnico-científico, civilizacional e de inovação permanente, em benefício do bem comum, e o tempo repetitivo e sem solução, até hoje, da guerra, em que o “progresso” bélico é um mito porque barbárie, crueldade, império do mal e retrocesso civilizacional.
Sendo a guerra um meio de dominação do homem pelo homem, a noção de progresso é uma ilusão, um mito, ao invés do sentido detetável na história da técnica, dado que a guerra, por si e em si, é regressão, por mais sofisticado que seja o progresso dos meios bélicos que a sustentam.
22.03.22
Joaquim Miguel de Morgado Patrício