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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICAS PLURICULTURAIS

  


120. VIOLAÇÃO DE PRIVACIDADE, EXPOSIÇÃO PÚBLICA, REDES SOCIAS


As redes sociais tornaram-se requeridas como objeto funcional e ícone social.


Assim se começou a reparar na confiabilidade acrescida daqueles que credibilizam situações de fotografar, filmar e gravar a nossa casa, o nosso automóvel, os nossos momentos de férias e de lazer. Ou uma parte desse todo, como uma pintura, uma escultura, um quarto, a piscina, o jardim, momentos íntimos em família, transferindo-os para o facebook ou o instagram, sem autorização.


Por vezes o intruso reage com surpresa, ao ser interpelado pelo dono, dado tê-lo feito porque gostou, tendo tal publicação como um elogio, um louvor, não tendo consciencializado ter havido violação da privacidade, quando não acompanhada de se ter feito passar, falsamente, pelo próprio proprietário. Além da violação da privacidade, há falsidade e uma mentira não assumida.


Ao invés, também há a exposição pública e pessoal, premeditada e consentida, partilhando a nossa casa, reuniões laborais, eventos familiares e públicos em diretos televisivos e pela internet, entrando em lares privados e lugares públicos restritos. Há menos privacidade, em tais situações, mas não violação de privacidade. Deixamos entrar estranhos na nossa privacidade, no que anteriormente nos era reservado.   


Essa exposição, para além de voluntária é, não raras vezes, elaborada, sendo comum que em entrevistas a pessoas tidas como respeitáveis, para além do requisito cénico da indumentária, haja também o da comunicação pública através de uma biblioteca pessoal com estantes onde estejam, bem visíveis, os livros certos, garantia de que são levadas a sério, ocultando-se os tidos como errados. E há o livro como ornamento, com lojas especializadas em decoração que disponibilizam falsas lombadas. 


Há, tantas vezes, uma cultura exibicionista nas redes sociais que faz perigar a nossa privacidade e intimidade, generalizando a coscuvilhice, a intriga e as falsas notícias, dando azo a uma geração educada para viver sem liberdade no seu espaço e sentido mais íntimo e privado, o que é lucrativo para empresas de comunicação, tecnológicas, seguradoras, bancos e um número infindável de entidades e instituições, como o fisco e o Estado, que em nome da segurança e da banalização permissiva da privacidade, se arrogam ter legitimidade para sermos cada vez mais vigiados e terem acesso a dados pessoais tantas vezes não exigíveis.


16.09.22
Joaquim M. M. Patrício