CRÓNICAS PLURICULTURAIS
122. (IN)TERMINÁVEL MOVIMENTO ENTRE VIDA, MORTE E NATUREZA
Schopenhauer defendia que os pensamentos humanos pouco podem contra a força da natureza. O ser humano crê ser o seu centro, do mundo e do universo, o que faz com que a ideia de morte, que é certa e não muito distante, não o perturbe, vivendo como se o pudesse fazer eternamente, como se fosse imortal.
Acrescenta, porém, que à natureza não interessa o indivíduo em si, mas a(s) espécie(s), pelo que investe primordialmente na sua conservação através de uma pujante produção de sementes ou por uma generosa fecundidade.
Assim, no momento em que pensamos na morte, deixamos de ser as pessoas individualizadas e autónomas que éramos e identificamo-nos, a partir daí, como um dos elementos de uma espécie, tornando-nos imortais, dado que uma espécie nunca morre e vive para sempre.
Filtrando este pensar, é como dizer que o ser humano labuta, labuta sem parar, e a matéria, o tempo e a vida movem-se em perene movimento e nada perdura, muito embora o que chega e vem depois não seja diferente do que já findou.
Morremos, os nossos descendentes continuam e são os sucessores das consequências e resultados do nosso trabalho, dos nossos ganhos e erros. Há um infindável movimento de ciclo, em que humanos, animais e coisas nascem e morrem, dia após dia, ano após ano, século após século e assim sucessivamente, sem se chegar a um resultado permanente, numa ininterrupção que transita de geração em geração, morrendo uns e vivendo outros, sobrevivendo a espécie.
Só que há os fabricantes do terror absoluto, em que o poder nuclear pode destruir todas as espécies, incluindo a nossa e a própria natureza, em que o tido como adquirido e interminável movimento entre vida, morte e natureza pode ser transitório e terminável, sem vencedores nem vencidos.
21.10.22
Joaquim Miguel de Morgado Patrício