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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

  


173. A DESTRUIÇÃO DA PAZ E A NATURALIZAÇÃO DA GUERRA


A mera ameaça ou a intenção de usar armas nucleares é imoral, dado ser ilícito o simples intuito de fazer mal? A dialética da guerra e da paz, idealizada para conflitos armados convencionais, pode ser aplicável à nova realidade da era nuclear? Abolindo, limitando ou reduzindo as armas nucleares, estaremos a abolir, limitar ou reduzir a guerra ou a escolher outro modo de morrer? Ou a “docilizar” a guerra com o fim de a usar como como instrumento da política?


A guerra ou uma paz qualquer nunca foram a melhor solução para resolver os conflitos, dado só interessar uma paz verdadeira, capaz de justificar uma guerra justa. 


No mundo de hoje a guerra coexiste com o armamento nuclear. Desta inevitabilidade e da coexistência entre o pacifismo impressionável e utópico, por um lado, e o belicismo total e monstruoso, por outro, pode resultar uma série de hediondas consequências. Para as evitar poderia abolir-se a guerra, proibir-se ou destruir as armas nucleares, confiar no lado bom da natureza humana e organizar o mundo ao seu jeito. Porque inviáveis estas soluções, surgiu a teoria da dissuasão. 


Esta doutrina desanuviou, por algum tempo, tentou travar a corrida aos armamentos e falhou, não podendo ser tida como uma solução final, tendo aumentado o ritmo e a intensidade, com nove potências nucleares e outras à espera de oportunidade.


Como sabemos, já houve o lançamento de bombas atómicas. Hiroshima e Nagasaki não são páginas brilhantes da história da humanidade. São atos que nos envergonham e introduziram uma nova escala e dimensão dos conflitos humanos.


Elisabeth Anscombe (filósofa), sustentou que uma pessoa é responsável pelas consequências intencionais e não intencionais do seu ato quando previsíveis e evitáveis, pelo que, segundo ela, a autorização para o lançamento das bombas foi moralmente criminosa, censurando e condenando o presidente americano Harry Truman. 


Sucede que a maioria dos conflitos tem como origem um conflito de interesses, o que aumenta, no mundo real, o risco de um novo conflito nuclear de consequências mais suicidas, em que não haverá vencedores nem vencidos, sendo um genocídio (na melhor das hipóteses) ou o fim do mundo/humanidade (na pior previsão).   


O conflito bélico, uma vez iniciado, não é tido, para os realistas, como um ato falhado, em que a força da razão e do diálogo foi substituída pela razão da força, dado isto ser doutrina de pacifistas e de filósofos bem-pensantes, colocando-se contra a realidade da vida em sociedade.     


Para uns, a única esperança é o pacifismo, para outros, o equilíbrio das armas,  sobressaindo o dever de sobrevivência das espécies, incluindo a humana, havendo que esforçar-nos, na nossa imperfeição, por controlar ou influenciar a definição dos fins e meios para alcançar um rumo exequível entre a utopia e a realidade, sem esquecer que “a bomba atómica mudou tudo, exceto a natureza do homem” (Albert Einstein).


03.05.24
Joaquim M. M. Patrício