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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

  


185. TUDÓLOGOS


São especialistas em tudo, dão palpites e pitaco sobre tudo, são “sabichões” que aparecem na tv, rádio, imprensa escrita, redes sociais, nos media em geral.


Diz-se que são formados em “generalidades”, falam, entretêm, escrevem e comentam tudo. Há quem os apelide de “comentadores”, “palpitólogos”, “achistas”, porque “comentam”, “palpitam” e “acham” isto e aquilo. 


Formatam o pensamento e são uma “elite” que ninguém elegeu.   


São um sinal da liberdade de expressão e um custo a pagar pelo imperativo de os canais televisivos, radiofónicos e imprensa em geral, terem de preencher o seu tempo 24 horas por dia.     


Podem ser muito bons, bons, medianos, medíocres, maus ou muito maus, consoante o contexto, a perspetiva e a subjetividade de quem os avalia e a recetividade dos seus destinatários.   


O seu conceito pressupõe um presumível conhecimento universal, independentemente de se ter ou não qualquer fundamentação, mesmo que uma mera especulação.   


Maioritariamente peremptórios, taxativos, assertivos e arautos de juízos categóricos, aparentam ser bem-fadados por iluminadas e inabaláveis certezas, favorecidos pelo dom do conhecimento instantâneo.   


Num mundo de inquietações e interrogações, onde há a convicção de que a verdade está para lá daquela que convencionámos ter como norma para vivermos em sociedade, em que quanto mais se aprende, mais se tem dúvidas, não faz sentido falar em tudológos (por mais sonante que seja soletrá-lo). Ou de tudologia, uma não ciência. Em França chamam-lhes editocratas: editorializam a realidade, colocando-a na agenda mediática.   


Perante a dúvida, a incerteza, o questionamento, a interrogação e o mistério da vida, falar em tudólogos, em especial do pensamento, é um contra-senso, é ser especialista, ao mesmo tempo, em tudo e em nada, num permanente confronto e contraditório entre ação, contestação, réplica e tréplica, em que a “sentença” é a verdade possível de uma opção em que temos de ser nós a decidir uma verdade que temos como real. 


Antes “comentadores”, “especialistas”, “analistas”, que a babel dos “tudólogos”, sem desprimor para a flexibilidade e riqueza vocabular da língua portuguesa.    


26.07.24
Joaquim M. M. Patrício

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