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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

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  199.  SILÊNCIOS E MISTÉRIOS

 

Se se aceita que a natureza é amoral, isso significa que a ciência humana também o pode ser? Há quem defenda que a ciência perdeu o sopro inspirador do humanismo, que é uma soma de técnicas, que se afasta crescentemente dos seus genuínos fins humanos. Já foi essencialmente progresso. Hoje é progresso e é retrocesso.

Fala-se na ferocidade atual no processo científico, que levou à guerra nuclear, aos problemas de ambiente, a que se junta a perplexidade de alguns progressos da genética, da bioquímica e da inteligência artificial, em que a responsabilidade do cientista é só para com a verdade científica, não a verdade moral, ética ou social.

Diz-se que neste momento há investigadores honestos e bons pais de família a trabalhar em laboratórios (muitos deles secretos) à descoberta de meios mais maléficos de matar, agindo conscientemente, não com ingenuidade, rumo a uma destruição mortal.

Assim, hoje, os homens de ciência são tidos, para muitos, como meros especialistas que perderam o saber moral, ético e humanista portador do prestígio incomum dos eleitos, isolando-se cada vez mais na torre esotérica da sua sabedoria rarificada, indiferentes à sorte dos demais seres humanos tornando-se, por vezes, imorais.

Sempre foi difícil para o ser humano conceber um mundo sem uma natureza moral, moralizadora e ética, com uma natureza amoral e zangada (ou um Deus irado) que se manifesta através de terramotos, tsunamis e tempestades (ou castigos divinos) mas que, por arrastamento, aceita a guerra, quando necessário, sem arrependimento, reflexão e qualquer peso moral e ético, em paralelo com cientistas, poderosos e políticos fabricantes do terror absoluto.

Ou será que a salvação está nos homens simples e sem Poder, em antagonismo com os homens pequenos que governam o mundo? Ou é uma esperança vã, dado que todos os humanos têm a mesma natureza e condição?

Expurgando liminarmente fábulas e mitos, persistem desafios e mistérios por desvendar, que nos remetem para a nossa natural e singela pequenez, dado não sermos a medida de tudo e de todas as coisas.

 

07.02.24
Joaquim M. M. Patrício