CRÓNICAS PLURICULTURAIS
Gandhi
207. VIOLÊNCIA E NÃO-VIOLÊNCIA
Se em teoria e pela lógica a aceitação da violência é a antítese dos métodos racionais de resolver os problemas, porque é tão promovida e justificada, havendo pessoas, incluindo intelectuais, que nem sequer a acham repelente (Normam Mailer, Sartre)?
Para além do monopólio da violência legítima, atribuído ao Estado, onde se cauciona a violência policial, também há quem legitime a violência pessoal, por oposição à institucional.
A esta estratégia do culto da violência, contrapõe-se a da não-violência, provocadora ou de confronto conciliatório, tida como uma conduta não passiva e mais adequada, em termos lógicos e racionais, a solucionar as adversidades (Gandhi, Luther King, Mandela).
Se a paz é um bem supremo racionalmente desejável por todos os humanos, só alcançável quando se abdica da violência, qual a causa para a fuga da razão que incita a violência, alimenta o ódio e um gerar de violência gerador de mais violência?
Não há respostas conclusivas, certeiras ou seguras, embora a História nos ensine, pelo que dela conhecemos até hoje, que a violência e a não-violência são caraterísticas permanentes do ser humano, independentemente das suas origens, raça, religião ou qualquer outro atributo.
Mesmo que legal, a violência pode ser ilegítima, podendo haver um conflito entre a legalidade e a ilegitimidade, tão antigo quanto a política e a história humana, ao invés da não-violência, justa por natureza.
Se a razão está a favor da paz, associada à não-violência, e a fuga da razão à violência, associada à guerra, há algo de irracional, que nos escapa, em todo o nosso procedimento como seres humanos, desde logo no comportamento político, tantas vezes não-racional, em que o pior dos autoritarismos é o desumano despotismo das ideias.
Há, então, que lutar, sempre, pelas qualidades que o género humano mantém e a ideia de que as pessoas são mais importantes que os conceitos.
04.04.25
Joaquim M. M. Patrício