CRÓNICAS PLURICULTURAIS
Filme “Silêncio", de Martin Scorsese
208. DIDACTOLOGIA DO DIÁLOGO E DO SILÊNCIO
Há regras mestras do pensar que, dada a sua universalidade, legitimam também a sua intemporalidade.
A liberdade de expressão, de falar, de discutir, de pensar, terá de ser equilibrada pelo talento de saber ouvir, não apenas o que o outro nos diz, mas também aquilo que somos capazes de dizer a nós próprios quando a sós ou em silêncio.
Um equilíbrio físico, emocional, psicológico e social apela a que ao movimento da força centrífuga se contraponha o repouso da força centrípeta, que a uma didactologia do diálogo se tenha de contrapor uma pedagogia do silêncio.
Exemplifica-o um dos princípios vigentes da escola pitagórica ao determinar que os discípulos começassem por ser ouvintes, sabendo escutar e meditar, em silêncio, as lições dos mestres, durante um período de preparação, a que se seguiria o exercício dialético e do contraditório, contrariando uma idealização de progresso que tem como ultrapassados os valores do passado, só por pertencerem ao que já findou.
A força diluviana da informação de que dispomos, ampliada pelo progresso tecnológico, não contribui, por si só, para um maior esclarecimento de nós mesmos, dado que, ao mesmo tempo, o ser humano sempre foi dominado pela ansiedade, desespero, stresse, angústias e tragédias psíquicas.
Daí haver uma necessidade permanente de equilibrar o andamento vertiginoso da nossa vida com um entusiasmo criador e silencioso que transmita alegria material e espiritual. Se se educa o ouvido ouvindo, a cabeça lendo e a escrita lendo muito, a liberdade de expressão e de pensar, terá de ser equilibrada com a arte de saber ouvir e escutar em silêncio.
11.04.25
Joaquim M. M. Patrício