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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

  
    Universidade de Oxford


211. SABERES CRUZADOS


A nossa contemporaneidade aposta na especialização, ampliando uma determinada área e deixando na penumbra as restantes. Mas há um cruzamento de saberes entre todas as vertentes do conhecimento, rumo a um querer saber mais.

Predomina a versão redutora e simplista da empregabilidade e do ganho económico, como referência primordial de que o melhor é estudar numa área que dê acesso a cursos de Engenharia, Gestão, Medicina, porque “têm saída”. Antes, na área de Letras, havia muitos interessados em Direito, o que vem diminuindo com uma crescente saturação, tal como em Arquitetura. As Humanidades em geral, os clássicos, a literatura, a filosofia, a arte, a história, a geografia, a ciência política são, para a maioria, inúteis, levando geralmente os pais a aconselhar os filhos com um “não vás por aí, não têm saída”. 

Num mundo altamente especializado, com a preocupação de criar especialistas em áreas específicas e singulares, onde as decisões são baseadas no discurso da eficiência, questiona-se: para que servem as Humanidades? A resposta pode ser: para saber mais. 

Daí ter-se sempre por útil preparar cidadãos que sejam capazes de refletir, escrutinar, ter espírito e sentido crítico, conhecer a complexidade das sociedades, da política e do poder que lhe está associado, não desprezando as competências indispensáveis à sobrevivência dos regimes políticos liberais, sendo insuficientes bons desempenhos económicos e um sistema educativo formatado para a mera eficácia, sob pena de termos gerações de máquinas funcionais em vez de pessoas capazes de pensar por si. É aqui, quanto a mim, que as Humanidades podem ser importantes.   

Por exemplo, é errado opinarmos que a História serve para pouco ou nada, dado que, por um lado, abre-nos amplos horizontes para a compreensão da complexidade e evolução das civilizações, compreendendo o passado, o presente e os futuros possíveis, porque as decisões que temos de tomar são essencialmente políticas e geopolíticas e, por outro, além de servir de formação complementar ao longo da vida, não pode ser só encarada como um curso profissionalmente orientado para o ensino, mas também para se saber sempre mais através da investigação e interação com todos os outros saberes.

História, Filosofia, entre saberes similares, não são incompatíveis com outros e com a empregabilidade, como o exemplifica Oxford, icónica universidade de Filosofia e cursos clássicos, que emprega alunos em empresas, bancos, onde querem pessoas que laborem com conceitos, analisem estratégia, tática, a estrutura de textos, o que é feito com representantes da cultura clássica, tendo depois uma formação particular que inclui conceitos operatórios (criative thinking).   

As Humanidades têm de fornecer uma base geral, tida como fundamental, de cultura geral, dando uma vasta preparação em que os alunos, professores e investigadores circulem por todos os saberes sociais, artísticos, científicos, informáticos e tecnológicos, numa pluralidade de interesses capaz de se adaptar a uma visão global, ao espírito crítico, ao saber mais, à criatividade e empregabilidade.


02.05.25
Joaquim M. M. Patrício

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