CRÓNICAS PLURICULTURAIS
229. DO QUE EXISTE À IMAGINAÇÃO DO QUE É POSSÍVEL
Há um problema de finalidade quando nos fechamos sobre nós próprios por excesso de previsibilidade, quando se indicia ter-se sacralizado o domínio do que existe e se intui ter-se liquidado o domínio do que é possível.
Um excesso de conforto, de técnica, de dependências, de substitutos, de máquinas que funcionam com base no pré-concebido, faz parte do já conhecido e não do que não se conhece.
Mesmo quando nos confrontamos perante a inevitabilidade da inovação, isso não acarreta, necessariamente, o surgimento de várias possibilidades de escolha no âmbito do que é possível, como o exemplifica o chatGTP e a inteligência artificial, na medida em que fornecem sínteses do que lhe pedimos com base no que receberam e conhecem, mas não com fundamento no que não conhecem.
O desconhecido precisa da nossa imaginação. O mundo continua a precisar de ser imaginado por nós. O que é mais premente se pensarmos que o mundo atual precisa de ser repensado, defendendo a condição humana, redefinindo o humano, dado que, ao invés, a inteligência artificial, através dos algoritmos, responde a algo com fundamento em dados que lhe demos, regendo-se pela semelhança a partir de elementos de coincidência, afunilando o pensamento.
E se a ciência e a tecnologia nos dão meios para fazer muitas coisas, a imaginação humana tem o papel primordial a desempenhar, como sempre, imaginando o futuro, onde a ciência, os cientistas, a literatura, os escritores, os livros, os artistas e criadores em geral têm sempre lugar, por maioria de razão quando paira no ar qualquer coisa que bloqueia a imaginação do que pode vir a seguir.
10.10.25
Joaquim M. M. Patrício