CRÓNICAS PLURICULTURAIS
11. BIODIVERSIDADE CULTURAL
Alimentação, vestuário, habitação e saúde são necessidades básicas, universais e fundamentais de sobrevivência.
A cultura não é tida como uma necessidade básica de sobrevivência ou bem de primeira necessidade, por confronto com o que comemos, a água que bebemos ou a saúde.
Há uma percentagem significativa de pessoas que não tem interesses culturais, tendo a cultura como descartável e dispensável.
Para quem entenda que a lógica dos impostos é que o dinheiro se destina a necessidades básicas e imprescindíveis, a cultura fica excluída.
Razão pela qual a cultura tem de ser autossustentável.
Mas uma parte da criação cultural não é sustentável por si.
Há quem defenda que se vá ao mercado, assumindo o risco na totalidade.
Há quem entenda que deve ser apoiada se, naturalmente, não existir mercado que a sustente.
Inexistindo apoios, nem mercado que a sustente, há morte cultural.
Não há civilização sem cultura. Há a barbárie.
O que permanece especialmente e intemporalmente em termos civilizacionais é o legado cultural, incluindo o património, que nos foi deixado e transmitido em termos geracionais.
Só que as necessidades económicas necessárias para a cultura, não obedecem necessariamente à lei da oferta e da procura.
Mas quando pagamos impostos, taxas ou coimas contribuímos para necessidades básicas, acessórias e complementares de outras pessoas, que não conhecemos, em lugares e regiões onde nunca fomos, não queremos ou não pretendemos ir, não nos afetando pessoalmente, embora diga respeito ao todo nacional.
Daí ser defensável a biodiversidade cultural, incluindo a criação cultural naturalmente sustentável e não sustentável, que não necessita e necessita de apoio.
Se assim não for, há a morte cultural de várias atividades culturais, dada a sua insustentabilidade sem apoio em termos económicos e logísticos.
Por exemplo, em Portugal, deixa de haver bailado, cinema, teatro ou ópera, se não existir apoio, o que é aterrador e assustador a nível da nossa memória coletiva e em termos de progresso civilizacional e cultural, por confronto com os avanços das nações que tomamos como referência.
A necessidade desta biodiversidade cultural e de apoio à criação cultural quando naturalmente não sustentável, deve ser transversal a todas as ideologias, quer de direita, centro ou de esquerda, o que não implica, sempre e necessariamente, uma cultura estatizante centralizada e totalmente subsidiada, tida como inexequível.
05.06.2018
Joaquim Miguel De Morgado Patrício