Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

15. PROCRASTINAR, PROCRASTINANDO, …

 

Há palavras que impõem que se lhes faça sentido. 

 

Que reclamam sentinela.

 

Que merecem pagar imposto.

 

São empoladas, elitistas, pedantes, petulantes.

 

Apresentam-se bem.

 

Usá-las é um luxo pessoal e cultural.

 

São altivas e soberbas no vestir.

 

Presunçosas e pretensiosas por condição.

 

No essencial, apenas se escrevem, sinal de solenidade escrita.

 

Marginalmente faladas, não se cantam, não se dançam, nem consta que inspirem poesia.

 

Chamativas e ousadas, não convivem com a plebe.

 

Têm-se por chiques, chiquérrimas, usando smoking, no mínimo fato e gravata, vestidos de gama superior e de alta costura.

 

Nos tribunais, onde a solenidade também faz a lei, é palavra de acórdãos, sentenças, requerimentos e recursos, vestindo beca e toga negra.

 

Só que, vulgarmente falando, procrastinar significa adiar, atrasar, delongar, demorar, transferir para outro dia, deixar para depois.

 

Procrastinação significa adiamento, delonga, dilação, morosidade, protelação.

 

Sendo depreciativo, no mínimo incomodativo, saber que frases comuns como: “Estás atrasado!” ou “Adiou-se o julgamento!” significam: “Estás procrastinado!” e “Procrastinou-se o julgamento!”.

 

Atrasar, adiar, demorar são palavras vulgares.

 

Procrastinar, procrastinando, procrastinação manifestam-se com jactância.

 

E são caprichosas, curvilíneas, maneiristas e extravagantes de escrever.

 

São barrocas por natureza, como o procrastinador que procrastina, procrastinando e com procrastinação, o que é procrastinável. 

 

São invulgares, eruditas e não gostam da rua.

 

Mas também se usam para nos entendermos. 

 

11.09.2018

Joaquim Miguel de Morgado Patrício