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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

22. A BANALIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA


A fotografia foi uma arte.

 

Uma arte de memória.   

 

De avivar a memória e ter boas recordações.

 

Discreta, pessoal, familiar, intransmissível. 

 

Um bem escasso, raro e precioso.

 

Testemunho de momentos marcantes.

 

Copiando a realidade e colando-a em molduras e álbuns de família.

 

Desafiante e senhora dos seus limites, sabendo que o invisível, o imaterial e o impalpável não se fotografam. 


Gradualmente democratizou-se. 

 

Atualmente banalizou-se.   

 

E massificou-se.

 

Hoje há a banalização da fotografia e inflaciona-se o seu culto via digital.

 

A fotografia analógica rareia.

 

Tornou-se uma relíquia.

 

Em paralelo com cartas ou missivas escritas à mão, com caligrafia identitária e singular, por maioria de razão se a tinta permanente.

 

Com a quantificação fotográfica altamente estandardizada, veio a banalização, a menorização da privacidade, a publicidade e transmissibilidade universalizada e indiscriminada.

 

Impera uma fotografia indiscreta, narcísica, hedonista, padronizada e massificada como meio para divulgação nas redes sociais, através de um fotografar maciço que as novas tecnologias proporcionam, em que a câmara fotográfica quase não pesa nem ocupa espaço.

 

Uma fotografia consumista, alheia da privacidade, sob o pretexto do global e do cosmopolitismo.

 

Sem esquecer as selfies, o gosto e o like de grandiosos, imensos e gloriosos eventos a publicar  no Facebook, no Instagram e onde der, com sonante identificação geográfica, local e pessoal. 

 

Mas há também a beleza, tantas vezes de natureza fugidia, que contemplamos e encontramos, que pode ser apreendida, captada e possuída tirando fotografias através de uma mera câmara ou máquina fotográfica (analógica ou atualizada), inversamente proporcional à sua banalização, massificação e consumo impulsivo.

 

Há, então, que desbanalizar a fotografia, dignificando-a e dando-lhe um maior lugar na nossa vida.    

 

 

15.01.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício