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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

49. 1.º DE MAIO: DA GREVE GERAL AO FERIADO OFICIAL DE TODOS

 

Em finais do século XVIII e em todo o XIX nasceu uma nova classe social, o proletariado. A sua designação surgiu no Manifesto Comunista, de Marx e Engels, em 1848. Baseava-se no nome por que eram conhecidos na antiga Roma os que não tinham bens e não pertenciam a nenhuma gens, que tinham como única riqueza os filhos, com os quais contribuíam para a cidade.

 

O proletariado apareceu em Inglaterra com os que não puderam competir com os que usaram os benefícios da máquina a vapor ou foram substituídos por ela, caindo no desemprego, na miséria ou sendo mão-de-obra explorada de modo hediondo. O Primeiro de Maio, também conhecido por May Day, inicia o seu percurso na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, em 1886, quando os operários fabris, por razões laborais, foram conduzidos pelos seus líderes a uma greve geral contra o patronato, em que a polícia interveio e, após alguns confrontos, dispararam e mataram alguns operários, tendo morrido alguns polícias.

 

Em 1889, em Paris, no primeiro Congresso da segunda Internacional Socialista, foi aprovada uma proposta para que se fizessem manifestações operárias onde houvesse sindicatos, em homenagem aos mártires de Chicago, cujo sucesso levou a IS, em 1891, no seu segundo Congresso, a que se reconhecesse formalmente este evento, inserindo-o no seu calendário.

 

O que deu causa a que no Congresso de Amesterdão, em 1904, se apelasse a todos os sindicatos para ser feita no 1.º de Maio uma greve geral para obtenção da meta das 8 horas de trabalho por dia, reforçando o significado da data como um dia de luta dos trabalhadores.

 

O senado francês, em 1919, ratificou a jornada de 8 horas e proclamou o 1.º de maio desse ano como feriado, a que se seguiu a União Soviética, em 1920.

 

Tornaram-se célebres as comemorações e desfiles na Praça Vermelha de Moscovo, na então União Soviética, irradiando a sua força para praças vermelhas de outros países, com paradas militares, exibição de armas e desejos de um proletariado liberto ansiando pela paz, com especial ênfase ao serviço de regimes populares, desde o sovietismo, maoismo, castrismo e demais comunismos.

 

Entre nós teve posição relevante após abril de 1974.

 

Com a institucionalização e globalização do 1.º de maio, fomentou-se a divisão e a luta entre classes sociais, como motor do progresso social, criando o conflito e a separação, dando autonomia e poder reivindicativo à classe operária.

 

Nascido em Chicago sob o signo do confronto é, para muitos, um perigo, porque cria e incentiva o conflito, a luta, a separação, em vez de reforçar a unidade e a comunidade, infundindo expetativas distorcidas, nocivas e utópicas, de que o vermelho comunista, trotskista, maoista, castrista e socialista se apropriaram como meio para atingir os seus fins, sem alcançar o fim da história gloriosa que proclamavam, cujas elites aproveitaram em benefício próprio e desfavor do proletariado.

 

Tentou a Igreja a sua substituição em memória de São José operário, o santo padroeiro dos trabalhadores, cujo dia lhe é dedicado no calendário litúrgico, mas em vão.

 

Resta, nos nossos dias, que o 1.º de maio não é apropriação exclusiva dos trabalhadores de tempos idos, de que a foice e o martelo são símbolos clássicos ultrapassados, antes sim de todos os que trabalham, sem estar afeto a ideologias identificadas do fim da história e da luta de classes como motor de progresso, não sendo da direita, do centro ou da esquerda, mas de todos.

 

Nem é propriedade exclusiva desta ou daquela ideologia, direito de preferência deste ou daquele partido, mas de todos, mais ou menos qualificados, daí a sua natureza de feriado.

 

01.05.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício

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