Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICAS PLURICULTURAIS


53. A VIDA É MACROSCÓPICA

Macroscópico é sinónimo de megascópico. 
E antónimo de microscópico.
A visão do mundo microscópico é fazível com microscópios. 
A visão do mundo macroscópico é feita a olho nu ou por telescópios.
O microscópio amplia imagens de coisas muito diminutas ou reduzidas. 
O megascópio projeta sobre a tela a imagem aumentada do objeto.
O telescópio amplia imagens de objetos situados a grandes distâncias no universo.
A visão humana comporta a microscópica e a macroscópica.
Os corpos visualizados a olho nu integram a visão macroscópica.
O olhómetro é o seu instrumento de medição natural.
Esta visão física e material das coisas adapta-se a outras valências da vida humana.
Em filosofia uma visão macroscópica refere-se a uma conceção ampla ou abrangente.
O mesmo sucede quando se tem uma mundividência macroscópica da vida.
O planeta em que vivemos é diminuto, a brevidade da vida humana um bem escasso.
O melhor remédio é uma perceção larga da vida e do seu lugar no universo.
Trabalho, família, afeição, amor, amizade, esforço, espírito de sacrifício, são parte dessa visão macroscópica, como a alimentação, saúde, habitação, mas não chegam. 
Há também os interesses ou prazeres exteriores ou interligados ao labor diário, que não exigem prontas decisões, não absorvendo as faculdades exaustas por um dia de trabalho.
A incapacidade de ter interesse por tudo aquilo que não tenha uma importância prática na vida, causa um gosto de não viver. 
O insistir obsessivo no êxito de competição, no sentimento de triunfo em que só é devido respeito ao vencedor, no êxito pelo êxito, no dinheiro pelo dinheiro, no consumir impulsivo, tem um preço se exclusivo ou excessivo, pode causar aborrecimento e tédio, se incapaz de utilizar de modo construtivo e inteligente os momentos de lazer.
A vida é curta e não nos permite ter acesso e interesse por tudo, mas é fundamental que haja sempre interesses, essenciais e subsidiários, adequados e proporcionais, para a preencher, e quanto menos à mercê do destino melhor, dado que, perdendo-se um, o ideal é o recurso imediato a outro. 
Mesmo que se compare o cérebro humano a um computador, que se vai degradando com o tempo até não funcionar, em paralelo com a curva descendente da existência de cada um até à morte, esse mesmo cérebro, à medida que se aproxima do fim, afeiçoa-se e aprecia cada vez mais, tantas vezes, a beleza do mundo e as coisas belas da vida, como a música de Bach, de Wagner ou de Chopin, uma pintura, uma leitura, ou o silêncio.
Porque a vida é mais abrangente e larga que o microscópio. 
É macroscópica.

 

29.05.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício