CRÓNICAS PLURICULTURAIS
57. DA SEGURANÇA NA VIDA À LIBERDADE NA ARTE
Há valores essenciais que permanecem sempre os mesmos.
Sejam éticos, morais, consuetudinários ou jurídicos, permanecem semelhantes no decorrer dos séculos.
São exemplos o não matar, não roubar, não agredir, não violar, não causar sofrimento.
Consoante a época e o seu contexto, assumem hierarquias diferentes, significados sociais variáveis e novas prioridades.
Desde o teocentrismo ao antropocentrismo, do século das luzes aos tempos hedonistas e utilitaristas, incluindo a era atual, dominada pela felicidade e pelos direitos subjetivos, tais valores subsistiram continuamente, fazendo parte do sistema e sendo aceites como politicamente e socialmente corretos.
Mesmo que as normas vigentes sejam minimais, plebiscitadas e não sacrificiais, e não maximalistas e sacralizadas, estamos longe de um hipotético grau zero de valores e de uma total libertação da teoria da culpa.
Houve e há sempre um núcleo estável e seguro de valores geralmente aceites, a que podemos adicionar a honestidade, a proibição da crueldade e da violência em geral.
São parte integrante da nossa vida em segurança, da seguridade na nossa vida. Integrando o sistema como maioritariamente aceites, não há alternativa.
Ganhou o sistema, o politicamente e socialmente correto nas nossas vidas.
Menos na arte.
Porque a arte é um espaço onde tudo é possível em liberdade.
Nela podemos colocar o melhor e o pior de nós.
É a arte pela arte em liberdade pela liberdade.
Mesmo quando não se ganha ao sistema, ao status quo, ganha-se em espaço de liberdade, de criatividade, inventividade e no ir mais além.
Mesmo se impactante e chocante, isso não significa que quem a quer usufruir não a racionalize e interprete com sentido crítico, sabendo distinguir entre a ficção e a realidade, entre a fantasia ou ilusão do onde tudo vale e é possível e o tido como correto e em segurança no dia a dia das nossas vidas.
26.06.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício