CRÓNICAS PLURICULTURAIS
59. O ABSURDO EM CAMUS
Albert Camus, filósofo do absurdo, defendia que levamos vidas costumeiras, entediantes, monótonas e repetitivas.
Até que um dia nos interrogamos: a vida faz sentido?
Percebeu que era impossível responder à pergunta: porque estamos aqui?
Diz que fazemos as coisas de modo rotineiro, como Sísifo, uma personagem mitológica grega condenada pelos deuses a repetir sempre a mesma ação, por toda a eternidade: empurrar uma grande pedra até ao cume de uma montanha, para que voltasse a cair até ao vale, onde tinha de ir buscá-la e voltar a empurrá-la até ao cimo.
Este trabalho cansativo e monocórdico, era um castigo ou punição para mostrar-lhe que os mortais não têm a liberdade dos deuses.
O absurdo de que fala Camus não é o de a vida não fazer sentido, mas, exatamente, a pretensão de procurar um sentido para as coisas.
O absurdo, que se opõe à razão, sensatez e bom senso, deixa de sê-lo a partir do momento em que aceitemos e deixemos de pensar que há coisas que dão sentido à vida. Quem aceita o absurdo vive bem com ele.
Em antinomia, segundo Camus, só se suicida quem, previamente, quis dar sentido à vida.
Que a vida seja absurda não significa cair numa apatia profunda.
Mesmo reconhecendo vivermos num abismo sem respostas, não devemos render-nos ante a vida.
Temos de enfrentá-la em toda a sua incompreensibilidade.
De ser criativos e inovadores na formulação de porquês geradores de outros porquês. Vivendo a vida em pleno, hidratando e renovando a monotonia, a repetição e o tédio. Mesmo que, por escolha pessoal, acreditemos num ente sobrenatural, exterior à natureza, a que a investigação científica não pode chegar.
Compreender essa verdade é aprender a viver.
02.10.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício