CRÓNICAS PLURICULTURAIS
64. O FUTURO DAS HUMANIDADES
Há que fazer reviver, renascer, eis o termo, as humanidades.
As humanidades perderam muito do poder de mobilização que tinham e, para muitos, são sinónimo de antiguidades, velharias, tempos perdidos de vestígios ausentes, de privações irrecuperáveis.
Há que recusar o congelamento, mumificação e subalternização das humanidades, que tal palavra esteja velha, gasta, esclerosada, depauperada.
Como ultrapassar esse retrocesso?
Há, desde logo, uma crise do conhecimento das línguas maternas, condicionando a prática da leitura, conhecimento e interpretação dos textos, corroborada pela pobreza vocabular do dia a dia e das redes sociais, o que é contrário à liberdade de criação e de invenção, de expressão e de pensamento, de conhecimento e de compreensão, de agudeza e de abertura de espírito a novas perspetivas e ao diálogo entre saberes.
O que nos leva a concluir que a defesa e futuro das humanidades passa por um apelo a um debate livre entre “verdades” diferentes, ao despertar do pensamento crítico, a um universalismo de diálogo entre vários saberes, da dignidade humana e dos direitos humanos, contra o dogmatismo, a tirania, a idade das trevas.
A que não deverá ser alheio o princípio da economia criativa, que gera a transformação das ideias em bens e serviços cujo valor é calculado pelo conteúdo de propriedade intelectual, demonstrando que tal capital é uma oportunidade e uma mais valia em todas as vertentes, gerando crescimento, desenvolvimento e emprego.
E se a globalização é uma realidade irreversível, embora não referendada, há que aproveitar os seus benefícios e reduzir os seus inconvenientes, assente, por um lado, em valores universais e, por outro, na diversidade cultural, ou seja, na unidade da diversidade.
Se as humanidades podem ser tidas como o estudo sistemático do diagnóstico da situação humana, o seu estudo não é um luxo ou uma inutilidade, pois ao indagar e questionar permite a transformação do conhecimento e saber em soluções, à semelhança da técnica e das ciências exatas.
Infelizmente, nesta área, muitos criadores, mentores e protagonistas, a começar por académicos e intelectuais, não usaram a força das suas ideias nesse sentido, optando por um dogmatismo arrogante e cego, e uma fuga da razão para utopias que se revelaram fraudulentas e em desconformidade com princípios básicos da dignidade humana.
06.11.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício