É NECESSÁRIA A DIPLOMACIA DA PAZ
Em várias instâncias internacionais, cresce a inquietação com a escalada do da guerra na Ucrânia, a perspetiva de eternização do conflito, e a catástrofe humanitária que poderá aumentar significativamente. O Papa Francisco deixou a mensagem veemente: “O meu apelo dirige-se, em primeiro lugar, ao presidente da Federação Russa, pedindo-lhe que pare, também por amor ao seu povo, essa espiral de violência e morte. Por outro lado, entristecido pelo imenso sofrimento do povo ucraniano na sequência da agressão sofrida, dirijo um apelo igualmente confiante ao presidente da Ucrânia para que esteja aberto a propostas sérias de paz”. E acrescentou: “A todos os protagonistas da vida internacional e aos responsáveis políticos das nações, exorto a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para pôr fim à guerra em curso, sem se deixarem arrastar para escaladas perigosas, e a promover e apoiar iniciativas de diálogo. Por favor, deixemos que as gerações mais jovens respirem o ar saudável da paz, não o ar poluído da guerra, que é uma loucura!”.
Andrea Riccardi, o fundador da Comunidade de Santo Egídio, lamentava que ninguém dê ouvidos à voz do Papa. “Não vi em lado nenhum o desejo de encontrar um caminho de paz. E estou muito preocupado porque, no mundo pós-globalizado, as guerras têm uma caraterística particular: eternizam-se”, afirmou.
Riccardi recusa a ideia de que falar de paz é ser pró-Putin. “Falo de paz – sublinha – porque a paz deve ser um objetivo que nos propomos com energia, para que a palavra paz não seja removida do vocabulário”. Esclarece, por outro lado: “Quando falo de paz, penso sobretudo no povo ucraniano bombardeado. Penso nos 7 milhões de ucranianos, a maioria mulheres e crianças, que deixaram o país e se tornaram refugiados no mundo; penso nessa nação que corre o risco de ser destruída”. O envio de armas para a Ucrânia “é correto porque ajuda Kiev a defender-se, mas isso apenas cria equilíbrio no conflito”, enquanto “é preciso algo mais: é necessária a diplomacia da paz”.
Mario Giro, ex-vice-ministro dos negócios estrangeiros de Itália e também membro da Comunidade de Santo Egídio, procura explicar o que não funcionou para que a guerra na Ucrânia fosse desencadeada por Putin, procurando igualmente olhar para o futuro. Para ele, o Ocidente, que respondeu prontamente ao pedido de ajuda do governo ucraniano, vê-se agora perante a urgência de equacionar perguntas como estas: “Como pôr fim a esta guerra? O que haverá depois de ela acabar?”
Recordando que houve já outros conflitos em que foi possível pensar na paz, antes de a guerra acabar, Mario Giro defende que “é preciso pensar em construir um amanhã enquanto ainda se está a combater”, respondendo a uma pergunta-chave: “como reconstruir na Europa a convivência com a Rússia, no futuro?”.
Este ponto é justificado deste modo: “Certamente, não podemos ignorar este grande país, o maior do mundo, rico em recursos naturais e culturais, cheio de problemas dentro e fora de suas fronteiras. (…)
A questão das fronteiras deste país é um tema enorme, não apenas em relação à Ucrânia. Não podemos ignorá-lo. O Ocidente europeu não poderá permitir-se uma guerra permanente com a Rússia, sob todos os pontos de vista: económico e de segurança. Os Estados Unidos veem a Rússia de uma forma inevitavelmente diferente da Europa. Basta olhar para o mapa: entre os dois grandes países, existe um oceano a meio”.
Mario Giro reconhece, no entanto, que, no estado atual das coisas, nenhuma das partes diretamente envolvidas na guerra se quer sentar à mesa das negociações, já que isso pressuporia disposição para fazer cedências. Mas esse facto não deveria impedir que as instâncias internacionais inscrevessem a busca da paz na agenda dos encontros.
Voltando a Andrea Riccardi, é preciso “É preciso uma imaginação criativa para sair deste conflito. Parece impossível agora, mas a paz nunca é impossível. Devemos alcançar o inatingível. Perante a ameaça atómica, é necessária uma política de paz”. “A paz é urgente e necessária”, reconhece o Presidente da República italiano, Sergio Mattarella. Mas passa, a seu ver, por “um restabelecimento da verdade, do direito internacional, da liberdade do povo ucraniano”.
(Elementos da Comunidade de Santo Egídio, que agradecemos)