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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

ELIO PECORA

 

Um dos maiores poetas italianos da actualidade.

 

Para Elio a poesia é o espaço maior de um diálogo pleno com o “outro” – uma forma de o alcançar, tocar, deter. E comover.

 

Vão: mãos, pés, rostos

- infinita multidão de esperas,

de esperanças, de iguais

na fome, na morte,

um procurando o outro

que tranquilize, impeça, todos cumprindo destinos

variamente cruzados,

nunca cessando atrás das artérias,

até dentro do riso ou do grito,

o medo de ser expulso

de um recinto indefeso

 

Confesso que até achei ou quis achar, que três razões me levaram a Taormina: conhecê-la, e dela partir até ao Etna. Conhecer Elio Pecora ao ler um dos seus poemas, daqueles que, em navios, só navegam em mares de mudança.

Elio captura a emoção estética na escolha das palavras. Entendi pois fazer defesa da finura compositiva, tão necessária ao retirar da máquina opaca que hoje muito escreve e publica e pouco ou nada provoca no leitor.

A poesia de Elio Pecora suscitou que Alberto Toni (poeta de maturidade com uma tese em Roma na Universidade Sapienza  ) tornasse público o seu pensamento de que o sec.XX italiano é o século “dos grandes isolados, verdadeiras vozes de uma modernidade que autenticamente ensina qualquer coisa”.

Dario Belleza ( poeta e dramartugo lançado por Paolo  Pasolini) considerou a poesia de Elio como “ sinal de qualquer coisa que não morre, de uma fé pela poesia além dos vanguardismos estéreis, a recusa de aceitar a barbaridade”.

Elio Pecora definido como “um aristocrata da poesia”, homem de muitas e inúmeras solidões, terá visto na lava do Etna uma graciosa leveza da zanga do centro do mundo ?

Não sei. Eu interpretei assim e também me aconcheguei à ideia de que as lavas são campainhas para que não adormeçamos na paz do tão pouco.

Ainda hoje voltei a sair à rua com um dos livros de Elio Pecora na mala,  ou não fosse sempre instante de 

 

(…) o golfinho veloz

na agua azul levando

a primeira vontade de existir.

 

(…)agora, promete-me seres eterno.

(…) Eu digo: “eterno é isto que vivemos”

(…) atravessarmos estreitamente juntos

a hora da estação e o destino.

 

Nunca longe dos lugares cultos gregos e latinos, assim se é: águas de naufrágios, largadas cumpridas, e sempre o tempo de insuficientes razões.

 

 

Teresa Vieira

Sec:XXI