Evocação de António Braz Teixeira como diretor do Teatro Nacional de D. Maria II (I)
Faço aqui uma evocação sintética mas muito refletida da atuação e da obra de António Braz Teixeira como diretor do Teatro de D. Maria II, no período de 1982 a 1985.
Importa recordar antes de mais que a gestão de um Teatro Nacional implica uma abordagem convergente da evocação e renovação.
Evocação, chamemos-lhe assim à necessária abordagem global de uma expressão histórica e estética, necessariamente breve mas adequada a um teatro do Estado: e isso, porque há que ter presente a “obrigatoriedade” (entre aspas) de retoma do património histórico e estético da literatura dramática, nacional e não só, evidentemente.
A verdade é que um Teatro Nacional e Normal constitui referência para a realização em espetáculo, como o teatro deve ser, da cultura teatral.
Mas mais: um Teatro Nacional tem de conciliar essa perspetiva histórica com a necessidade de evolução e renovação dramatúrgica e das artes e literaturas do espetáculo dramático e isto, não só na literatura e na cultura dramática do país, como também da literatura e cultura dramática a nível mundial.
E ainda acrescentamos que o Teatro Nacional e Normal mais deve ter em vista a dupla dimensão, no que respeita à dramaturgia (neste caso portuguesa) do património histórico-cultural do país, mas também da atualização de patrimónios histórico-culturais de expressões vinda de outros países e de outras culturas.
E se isto nos parece óbvio no quadro de qualquer cultura-literatura dramática, mais o será no que respeita à cultura-literatura dramática portuguesa: porque, há que reconhecer, o teatro não é e expressão artística dominante no quadro da cultura portuguesa – o que não significa, de modo algum, uma redução da importância e qualidade da literatura dramática e do espetáculo em Portugal.
Fazemos pois aqui uma evocação da seletividade cultural e teatral do Teatro de D. Maria II no período em que foi dirigido por António Braz Teixeira como vimos de 1982 a 1985.
E fazemo-lo a partir da evocação das peças representadas, chamando a atenção para um fator também muito relevante: é que a seletividade implicou uma abordagem coerentemente global do repertório.
E nesse aspeto saliento alguns pontos específicos.
Em primeiro lugar, uma preponderância de textos de autores portugueses, o que é adequado a um Teatro Nacional.
Mas também obviamente peças de autores estrangeiros.
E num caso e noutro, uma preponderância de textos mais ou menos contemporâneos, sem embargo, claro está, da evocação de grandes clássicos da história do teatro.
Recordamos peças referenciais levadas à cena no Teatro D. Maria II durante a gestão de António Braz Teixeira:
CASTRO de ANTÓNIO FERREIRA
AUTO DE SANTO ALEIXO de AFONSO ÁVARES
GUERRAS DO ALECRIM E MANJERONA de ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
FÍGDOS DE TIGRE de F. GOMES DE AMORIM
A SOBRINHA DO MARQUÊS de GARRETT
O MORGADO DE FAFE EM LISBOA de CAMILO CASTELO BRANCO
PEDRO O CRU de ANTÓNIO PATRÍCIO
O GEBO E A SOMBRA de RAUL BRANDÃO e mais as peças num ato do mesmo autor
ALMA de MARIO SÁ CARNEIRO e PONCE DE LEÃO
ANTES DE COMEÇAR de ALMADA NEGREIROS
O MARINHEIRO de FERNANDO PESSOA
FERNANDO (TALVEZ) PESSOA de JAIME SALAZAR SAMPAIO
A BIRRA DO MORTO de VICENTE SANCHES
POE OU O CORVO de FIAMA HASSE PAES BRANDÃO
OS IMPLACÁVEIS de MANUEL GRANGEIRO CRESPO
DOM JOÃO de MOLIÈRE
A CASA DE BERNARDA ALBA de FREDERICO GARCIA LORCA
LONGA VIAGEM PARA A NOITE de O´NEILL
ANÚNCIO FEITO A MARIA de PAUL CLAUDEL
MÃE CORAGEM de BERTOLD BRECHT
LULU de WEDEKIN
E acresce que António Braz Teixeira reconstituiu ainda cenas de uma peça perdida de António Patrício intitulada “Teodora”.
Veremos em próximo texto alguma doutrinação de António Braz Teixeira sobre teatro e estética de espetáculo.
DUARTE IVO CRUZ