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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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EVOCAÇÃO DE FERNANDO AMADO NOS 120 ANOS DO SEU NASCIMENTO (I)

Fernando Amado e Almada Negreiros.jpg

 

Justifica-se esta referência a Fernando Amado, como figura referencial do moderno teatro português, e não só como docente e doutrinador e investigador: pois, para além da criatividade dramatúrgica em si mesma, importa evocar a sua ação docente no então Conservatório Nacional, mas também, e sobretudo, a doutrinação estética que, ao longo de décadas, marcou a própria atividade e criatividade do teatro português, na pluralidade de dramaturgia, direção, doutrinação, análise crítica, pedagogia.

 

Razões de sobra para estas notas evocativas: pois, decorrido pouco mais de meio século sobre a sua morte, em 1968, nem por isso a obra dramatúrgica, a doutrina estética e a atividade docente e doutrinária perderam atualidade. O mesmo se não dirá, infelizmente, da sua projeção, o que documenta a fragilidade, digamos assim e dizemos bem, da cultura teatral portuguesa.

 

E nesse aspeto, mais do que a dramaturgia em si, aliás de qualidade e modernidade indiscutíveis, haverá que salientar sobretudo a doutrinação que, a partir do teatro, Fernando Amado enunciou. Num sentido que concilia a exigência estética, a doutrinação histórica e ideológica e a qualidade de espetáculo. Tudo isto, insista-se, num sentido de modernidade que se concilia com a tradição cultural do teatro português. E todos estes fatores numa globalidade que marcaram a época e até hoje são notáveis na modernidade.

 

Aliás, não por acaso a obra de Fernando Amado foi marcada pela influência direta do seu grande amigo Almada Negreiros. Mas diria que, no que respeita ao teatro, a inversa também é verdadeira: e de tal forma que Almada presta-lhe uma sentida homenagem, ao referir que Fernando Amado “pôs em cena duas peças minhas: sinto-me pago em artista e em amigo”.

 

Importa referir que Fernando Amado criou toda uma vasta dramaturgia conciliadora da tradição sobretudo simbolista com o sentido da modernidade estética e ideológica, digamos assim. De tal forma que a alternância entre o modernismo estético e o simbolismo é constante. Refira-se por exemplo a influência futurista de peças como “O Homem Metal”, escrita no início dos anos 20, ou o simbolismo de “O Pescador”, escrito um pouco pela mesma época, mas sobretudo a renovação que já reflete em “O Retrato de César" (1935) onde se concilia a reconstituição histórica com uma visão humanística que marca um sentido de modernidade.

 

Aliás, o teatro de Fernando Amado assume um temário contemporâneo: e na expressão, referimos evidentemente a época mas o estilo e sobretudo o temário. E esse até hoje não envelheceu, mesmo quando assume temas e personagens historicistas.

 

“A Caixa de Pandora” (1948) peça determinante desta dramaturgia, é nesse aspeto exemplar. Aliás, pode citar-se, nesse aspeto, “O Casamento das Musas” (1948), escrito e representado por encomenda expressa do Teatro Estúdio do Salitre e estreado com o “Antes de Começar” de Almada. Era a verdadeira modernidade da época e, no que respeita à qualidade dos textos, ainda hoje, como veremos em próximo artigo.

 

E acrescentaremos referência a mais peças de Fernando Amado, algumas delas inéditas, outras representadas, mas poucas publicadas. Citamos designadamente “Os Segredos de Polichinelo”, “O Livro”, “O Aldrabão” e mais dezenas de peças, além de estudos e escritos sobre teatro.

 

E que peças? Onde foram representadas? Que teatros Fernando Amado dirigiu?

 

Veremos em próximo artigo.

 

DUARTE IVO CRUZ