EVOCAÇÃO DE UM TEATRO OITOCENTISTA EFÉMERO
Nesta alternância entre teatros “históricos” e salas de espetáculo contemporâneas, aí incluindo nas duas categorias a referência à respetiva permanência e atividade, evocamos hoje um Teatro oitocentista efémero, mas nem por isso menos relevante na época em que existiu e funcionou.
A tragédia que o destruiu foi aliás recentemente assinalada, pelo que mais se justifica esta referência.
Trata-se do Teatro Baquet do Porto, cujas obras de construção se iniciaram concretamente em 12 de fevereiro de 1858, foi solenemente inaugurado em 16 de julho do mesmo ano, mas que desapareceu, devido a incêndio, na noite de 20 de março de 1888, em plena atividade e durante um espetáculo. Resultou algo como 120 vítimas mortais, entre espetadores, artistas e demais pessoal.
A designação do Teatro surge-nos hoje algo insólita, mas afinal decorre do nome do próprio responsável pela iniciativa e pela construção do edifício, o luso-francês António Pereira Baquet, alfaiate no Porto. Tinha loja em terrenos situados na mesma localização do edifício do Teatro. E terá contratado a companhia do Teatro do Ginásio de Lisboa para o espetáculo inaugural, a cargo do ator e dramaturgo José Carlos Santos, nome ilustre na época, da geração que marcou a atividade cénica a partir do então já muito relevante Teatro de D. Maria II.
E nesse sentido, podemos aqui evocar a própria estrutura do Teatro Baquet. No exterior, a gravura mostra a fachada muito da época, no conjunto de estátuas evocativas da comédia, da pintura e das artes em geral, sobre a grande varanda do que seria o foyer, como então (por vezes ainda hoje...) se denominava a sala de acesso e convívio do público.
Tudo isto desapareceu na noite de 20 de março de 1888, perante uma sala cheia que assistia a espetáculo de beneficio e homenagem a um ator. Mas não houve espetáculo. A orquestra suspendeu a execução, Segundo descrições da época, o público de início não percebeu o que se passava. E só com o fogo já praticamente incontrolado se deu uma debandada que não evitou a centena de mortes, entre espetadores, artistas e técnicos de palco.
Do Teatro Baquet do Porto resta a memória do desastre e a gravura, que Sousa Bastos incluiu em 1908 no “Diccionário do Theatro Português”, que temos citado e que aliás surgiu recentemente a propósito da evocação da tragédia...
DUARTE IVO CRUZ