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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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EVOCAÇÃO DO TEATRO MUNICIPAL DE SÃO LUIZ

 

Chamam-me a atenção para um livro sobre Lisboa, publicado em Paris: “Lisbonne – Histoire, Promenades, Anthologie et Dictionnaire”, dirigido por Luísa Braz de Oliveira (ed. Robert Laffont) que evoca e analisa a cidade num pluralismo de aspetos e dimensões que efetivamente dão uma visão abrangente do historial mas também da realidade contemporânea e quotidiana: e isto, num conjunto de mais de 20 autores franceses e portugueses. E nesse conjunto heterogéneo mas coerente, sobressai a tradição de salas de espetáculo, com destaque para o que é hoje o Teatro Municipal de São Luiz. O Teatro é referido por António Pinto Ribeiro num texto denominado “Lisbonne aux Allés de Jacarandas”.

 

Mas voltemos atrás, a própria denominação merece referência histórica. Na verdade o teatro é inaugurado em 22 de maio de 1894 com a ópera “A Filha do Tambor Mór” de Offenbach e à data chama-se Teatro D. Amélia, homenagem à Rainha homónima. A partir da implantação da República passa a chamar-se precisamente Teatro República. Mas a iniciativa original partira de um luso-brasileiro, o Visconde de São Luis Braga, nascido no Rio Grande do Sul de pais portugueses e que aqui retornou. 

 

É de assinalar que o projeto original ficou a dever-se ao arquiteto Ernesto Luis Raymond, com intervenções relevantes de elementos ligados à produção teatral – e desde logo os cenógrafos Luigi Manini e Carlo Rossi.

 

O edifício ardeu em 1915, mas em boa hora foi devidamente restaurado, mantendo-se o estilo original. Adotou o nome atual em 1918 e converte-se em cinema a partir de 1926. Mas, tal como já escrevi, pelo menos desde 1896 efetuaram-se projeções de “animatógrafo”: de tal forma que em 1911 o Jardim de Inverno é autonomizado como cinema com a designação insólita de “The Wonderful” nada menos… Durante décadas foi sobretudo cinema: e em certas épocas era denominado São Luis Cine.

 

É interessante aliás recordar, tal como já escrevemos, que o São Luiz sempre albergou, desde a origem, o que de melhor existiu em Portugal no que respeita a espetáculos. Desde as companhias de Rosas e Brazão à estreia de Amélia Rey Colaço, passando por artistas “históricos” como Ferreira da Silva, Adelina e Aura Abranches, Lucília e Lucinda Simões, Erico Braga, Chaby Pinheiro, até às gerações mais recentes, antes pelo menos dos anos 70 e de certo modo até hoje. E no que toca a artistas estrangeiros, a tradição vem das origens: desde Sarah Bernard, à Duse, à Novelli, Réjane, Raf Valone, Edwige Feillere, Maurice Chevalier, até aos mais recentes.

 

E no que respeita à dramaturgia portuguesa, recordo que por lá passaram em estreia peças de Marcelino Mesquita, Júlio Dantas, Lopes de Mendonça, José Régio, Bernardo Santareno, Sttau Monteiro... (cfr. “Teatros de Portugal” ed. INAPA 2005).  

 

Em qualquer caso, o São Luiz é municipalizado em 1971. Mas manteve entretanto a tradição de teatro, cinema e sala de concertos que vinha da origem. Basta ler a extraordinária coleção de placas evocativas que preenchem as paredes dos foyers da plateia e balcão.

 

José Augusto França evoca a chamada I Conferencia Futurista de Almada Negreiros no São Luiz, em 14 de abril de 1917, em que apresentou o “Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX”.

 

“À minha entrada no palco rebentou uma espontânea e tremenda pateada, seguida de uma calorosíssima salva de palmas que eu cortei com um gesto. Reduzida a plateia à sua inexpressão natural, tive a glória de apresentar o futurista Santa-Rita-Pintor que o público recebeu com uma ovação unânime. Comecei então o meu ultimatum à juventude portuguesa do século XX e a plateia acostumada a conferências exclusivamente literárias e pedantes chocou-se nitidamente com a virilidade das minhas afirmações pelo que executava premeditadas e cobardes reprovações isoladas mas sem efeito do conjunto”...

 

E refere então José Augusto França:

“Assim descreve Almada, no Portugal Futurista de Novembro, o início da cerimónia de que foi o protagonista visível, dentro de um fato de macaco de aspeto clownesco”... (cfr. “A Arte em Portugal no Século XX”  Liv. Bertrand 1974).

 

DUARTE IVO CRUZ

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