EVOCAÇÃO DOS 70 ANOS DA INAUGURAÇÃO DO CINEMA E TEATRO SÃO JORGE
Completam-se dentro de meses os 70 anos da inauguração do Cinema (e Teatro) São Jorge de Lisboa. E se o referimos desta forma, é porque, precisamente, o grande edifício, vocacionado para cinema desde a fundação, previu a potencialidade de espetáculos de teatro, e não foram poucas as vezes que tal sucedeu, mesmo tendo em vista a descontinuidade histórica - já o podemos assim dizer - da exploração junto do público e da natureza e qualidade dos espetáculos respetivos.
E isto apesar da vocação dominante expressa no projeto do arquiteto Fernando Silva, depois, aliás, profundamente alterado no interior das salas de espetáculo.
A função cultural de espetáculo do São Jorge transcendia de inicio a exploração cinematográfica, ela própria de exigente qualidade, vocacionada sobretudo para a filmografia inglesa, pois essa era a origem da direção do Cine-Teatro, chamemos-lhe assim: mas desde já se recordam os verdadeiros concertos de órgão eletrónico, efetuados no intervalo das sessões, a que ainda assistimos, aqui recordamos, e que marcavam a qualidade cultural dos espetáculos.
Evoca-os designadamente José Augusto França, situando o São Jorge no plano do desenvolvimento urbano de Lisboa com evocação muito elogiosa do projeto original de Fenando Silva, “que venceu um concurso, com correção britânica por identidade dos empresários, e contando com um magnífico espaço interior, superior a todos em Lisboa, que a massa finalmente construída não chegou a acompanhar”...
E mais acrescenta José Augusto França que, “apesar da novidade do seu órgão elétrico que tocava nos intervalos, o São Jorge nunca se integrou nos hábitos da capital, disputando dificilmente a clientela da melhor classe mundana do Tivoli e do São Luís, afeitas a um quadro mais tradicional”. Estávamos no início dos anos 50... (J.A. França “Lisboa, História Física e Moral” ed. Livros Horizonte 2008 pág. 716).
Mas isto não obstou a que, durante décadas, o São Jorge tenha mantido uma atividade de espetáculos com qualidade e prestígio de público.
Em 1981 o São Jorge encerrou para obras e reabriu cerca de um ano depois. Prosseguiu a exploração sobretudo cinematográfica, com alternativas que se revelaram difíceis, a ponto de se colocar novamente a certa altura a hipótese da demolição.
Até que em 2001 a Câmara Municipal de Lisboa adquire o edifício. Não se falou mais em demolição.
E até hoje, o São Jorge mantém atividade cultural, com uma programação interna e internacional que transcende os próprios espetáculos.
DUARTE IVO CRUZ