FELIZ PÁSCOA!
Páscoa é designação que nos remete para a língua, a história e a cultura religiosa do povo de Judá e Israel ou, melhor dizendo, para a sua libertação e saída do território e do jugo egípcio e sequente passagem à terra prometida. Na versão latina da Vulgata, o pertinente salmo de celebração canta: In exitu Israel de Aegypto / Jacob de populo barbaro / facta est Judea sanctificatio ejus / Israel potestas ejus. Afinal é ao poder santificante de Deus que se deve a libertação. Mas na ação de Deus está implícita a vontade passiva e activa do ser humano, como tão bem ilustra o episódio da luta com Deus (ou de Jacob com o Anjo) relatado no capítulo 32 do Génesis (versículos 23 e seguintes): alguém lutou contra ele até ao alvorecer. Vendo que não conseguia dominá-lo, bateu-lhe na articulação da anca, e a anca de Jacob deslocou-se enquanto lutavam. Disse-lhe: «larga-me, porque já se levantou a aurora». Mas Jacob respondeu: «Não te largarei, sem que me tenhas abençoado». - «Como te chamas?» - «Jacob». Então prosseguiu: «Não mais te chamarão Jacob, mas Israel, porque foste forte contra Deus e contra os homens, e levaste a melhor». Jacob fez-lhe este pedido : «Revela-me o teu nome, por favor». Mas respondeu-lhe o outro: «Porque me perguntas o meu nome?» E ali mesmo o abençoou.
Seria ele mesmo o inominável, o que respondeu a Moisés dizendo «Eu sou aquele que é» e o mandou dizer aos israelitas que «Eu sou enviou-me até vós»? Aquele que, quiçá até para todos nós - e não só para incréus ou agnósticos - em qualquer momento surge misterioso, interrogação ainda quando se nos afirma e connosco luta, o Quem ou o Quem? que nos defronta em inesperado instante da vida?
Nesta celebração da Páscoa como festa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, talvez pelo clima de pandemia, muita incerteza e tanta aflição que a envolve, proponho-me pensarsenti-la como se me investisse daquele Jacob que lutou com a presença não evidente de Deus. Por Jesus, com Jesus e em Jesus, Ele partilha connosco um destino que só pode ser o nosso próprio. Chama-nos ao combate, à luta contra a limitação das nossas fraquezas e vulnerabilidades, resignações e preconceitos. A Páscoa de Cristo é passagem, sim, o nosso passo para a liberdade que nem o tempo, nem espaço algum, por muito confinado, poderá diminuir.
Feliz Páscoa!
Camilo Martins de Oliveira