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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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ISABEL RUTH COM O GRUPO FERNANDO PESSOA NO BRASIL

 

Na primeira fila da fotografia do Grupo Fernando Pessoa no Brasil, temos Glória de Matos, João d’Avila e logo a seguir Isabel Ruth, esta recentemente chegada de dois anos de formação na Royal Ballet School onde ingressou muito jovem em 1957, e de um início de carreira como bailarina na Companhia de Ballet da FCG.

A experiencia teatral com o GFP terá sido pois, não propriamente a primeira, pois já antes fizera designadamente, nos anos 70, “O Marinheiro” de Pessoa na Casa da Comédia mas pelo menos a primícia de uma longa carreira teatral. Mas é sobretudo no cinema que Isabel Ruth se notabiliza, no plano interno mas também no plano internacional. E aí, a sua carreira assume um nível excecional entre nós.

Isabel Ruth participou em para cima de 70 filmes. Pela menos sete com Manoel de Oliveira, quatro com Paulo Rocha, mas também com António de Macedo, João Botelho, outros realizadores portugueses …e com Pasolini no Edipo Re e em numerosos filmes de outros realizadores italianos, numa carreira internacional muito pouco comum, para não dizer excecional em artistas portugueses.

Mas vejamos “Os Verdes Anos” (1963). O filme de Paulo Rocha é considerado com justiça um marco artístico e cronológico de uma certa renovação do cinema português, no que na altura se chamavas a “nova vaga”. E isto, pela qualidade estética e técnica da realização em si, pela notável direção e interpretação, mas também pelo temário e pelo conteúdo de análise de uma certa mudança subliminar da sociedade portuguesa e do confronto sociopsicológico com uma Lisboa marcadamente “moderna” para a época.

De tal forma que podemos dizer – o filme de Paulo Rocha é ainda hoje um grande filme pela realização/interpretação, mas é também um grande documento de novas épocas que aí vinham, expressa ou subliminarmente – e desde logo, pela ambientação na cidade moderna e até pela ironia implícita no contrataste com a visão e citação do estuário do Tejo, de onde “partiram as caravelas” ou algo semelhante…

Escreveu Paulo Rocha (in Panorama do Cinema Português – Cinemateca Portuguesa – 1980): “Os Verdes Anos é a história da iniciação de dois jovens provincianos nos problemas da cidade e do amor (que) nasceu da conjugação de um duplo projeto: a fascinação exercida (…) por certas zonas mais modernas da cidade, vivendo paredes-meias com áreas rurais em vias de proletarização – projeto urbanístico, meditação sobre Lisboa nova, portanto – e a necessidade de tratar um assunto muito popular – o crime passional, realidade quotidiana dos jornais e dos boatos” - e assim é, na notável interpretação de Isabel Ruth e de Rui Gomes.

É o «drama da adaptação à cidade» numa «frescura de inspiração e uma verdade de sentimento pouco habitual, entre nós», (Luís de Pina - “A Aventura do Cinema Português” -1977), «história dos amores infelizes da “sopeira” magistralmente interpretada por Isabel Ruth que na obra se afirmava como o primeiro grande nome do cinema novo” (João Bénard da Costa – Histórias do Cinema – 1991).

E Alberto Vaz da Silva: “Muito raras vezes uma obra de arte deixou, entre nós, assim transparecer também além do mais todo o fatalismo, o tempo absorto e o peso surdo, pesado e prolixo que há tanto se enraizaram na nossa terra e a vão definindo no seu e no nosso devir” (in O Tempo e o Modo – Dezembro 1963)    

Essa qualidade/modernidade decorre fundamentalmente da realização, da interpretação e, há que dizê-lo, do belíssimo tema musical de Carlos Paredes sobre belíssimo poema de Pedro Tamen.  

 

DUARTE IVO CRUZ